A jornalista Clara Viana
divulgou recentemente alguns dos dados recolhidos pela
Direcção-Geral de Estatísticas de Educação e Ciência (DGEEC) acerca dos 300 429
alunos inscritos no 3º ciclo, no ano lectivo de 2014-15, nas escolas públicas de Portugal Continental.
A percentagem de reprovação em todo o 3º ciclo (7º + 8º + 9º anos) foi de 13,1 %, tendo sido mais alta
no 7º ano: 16,7 %.
Um dos aspectos destacados foi o
número de
negativas dos alunos que reprovaram. No
7º ano, por exemplo, 66 % dos reprovados tiveram
seis ou mais negativas; e 85 % tiveram cinco ou mais.
Mas o principal destaque
resultou do cruzamento do número de negativas, por disciplina, com o
contexto económico, comparando os alunos
beneficiários da Acção Social Escolar (aqueles cujos agregados familiares têm
um rendimento igual ou inferior ao salário mínimo nacional, sendo os do escalão
A os mais desfavorecidos) com as obtidas pelos não beneficiários. No 7º ano essa
comparação mostrou como os contextos económicos desfavoráveis influenciam muito
negativamente o sucesso escolar:
A DGEEC notou ainda que no 8º e no 9º anos a percentagem de alunos que reprovaram
com seis ou mais negativas decresceu, para 54 % e 28 %, respectivamente, e considerou
que isso só parcialmente resultaria de uma capacidade dos alunos para
recuperarem das negativas anteriores, podendo também ter origem no “progressivo
reencaminhamento, ao longo do 3º ciclo, dos alunos com desempenhos mais baixos
para outras modalidades de ensino, como os cursos de educação e formação ou os
cursos vocacionais”, cujos resultados não figuram as estatísticas analisadas.
A partir da sua análise, concluiu
a DGEEC: “Parece assim ser inegável que, em Portugal, o sistema educativo terá
de continuar a trabalhar para que a escola pública cumpra o seu papel nivelador
de oportunidades entre alunos oriundos de diferentes estratos socioeconómicos.”
Estes destaques merecem que se lhes façam algumas observações:
·
O «sistema
educativo» tem-se mantido muito teórico, mesmo quando se trata das «outras
modalidades» referidas acima;
·
As melhorias das
taxas de «sucesso escolar» (que são reais) têm resultado de sucessivas pressões
sobre os professores, não das mudanças do «sistema educativo» na direcção de
maior ligação à vida, ao meio, às diferentes culturas, às diversas formas de
aprender;
·
A marca dessas
pressões está no alto número de negativas da maioria dos alunos que reprovam:
desde há muitos anos que os professores começaram a evitar reprovar alunos com
«poucas negativas», para evitarem terem problemas, para satisfazerem os seus
directores, para que estes possam satisfazer as estatísticas nacionais;
·
O «trabalho» que a
«escola pública» tem de continuar a fazer (porque tem mesmo) terá muito mais a
ver com a diversificação de percursos (conteúdos e metodologias) de
aprendizagem, mantendo o contacto entre todos; mas isso sairá mais caro e terá
de se furtar ao controlo centralizado (pelos directores e pelo Ministério da
Educação).
Fonte jornalística: Viana (2017)