Se um dia quisermos desenvolver currículos em que a «organização
por disciplinas» cede o lugar à «organização por temas», eis uma notícia
inspiradora.
Uma estrela de neutrões é
o que resta quando uma estrela bastante maior do que o nosso Sol (pelo menos
oito vezes a sua massa) morre.
Em 2017 foi observada pela primeira vez a colisão entre
duas estrelas de neutrões. A análise dos dados recolhido permitiu, entre outras
conclusões, que fosse confirmada a conjectura de que é nestes tremendos choques
que se origina uma parte dos elementos químicos pesados do Universo, como é o
caso do ouro.
E como estes elementos químicos são projectados em todas
as direcções do espaço pela explosão resultante do choque, eles também se deveriam
encontrar entre as poeiras que deram origem ao nosso sistema solar.
Obrigado, Astronomia e Química!
A Terra disporia, portanto,
destes elementos químicos pesados quando se formou, e eles foram-se
concentrando no seu «manto» (a camada com cerca de 70 quilómetros de espessura que
separa o «núcleo» da «crosta»).
As erupções vulcânicas fazem
emergir pedaços do manto até à superfície, sendo um deles os xenólitos (fragmentos de uma rocha no interior de outra rocha
maior): e já foram encontrados no interior de alguns xenólitos partículas de ouro em estado puro,
com a espessura de um cabelo!
Xenólito encontrado na Patagónia |
Obrigado, Geologia!
Há cerca de 200 milhões de anos a América do Sul e África
formavam um único continente, o Gondwana.
Entre os factores que fracturaram este antigo continente,
separando-o nos dois continentes actuais, esteve a ascensão de um grande volume
de magma, que atravessou o manto e quebrou a crosta terrestre, muito mais frágil e fina. O movimento de duas das placas tectónicas que se foram formando fez com que uma deslizasse sob a
outra, permitindo que fluidos ascendessem até à superfície, através de fissuras,
concentrando aí os metais que transportavam: e um dos metais que se concentrou no
chamado Maciço do Desejado, na Patagónia argentina,
foi o ouro!
A América do Sul, a Argentina e, a vermelho,
a zona aurífera da Patagónia |
Obrigado, Geologia e Geografia!
A notícia acaba aqui.
Mas é importante não encerrar o seu potencial apenas nos
aspectos científicos e técnicos: a existência de ouro (e de tantos outros
minerais) originou tão frequentemente as terríveis histórias que originou, e
ainda continua a originar, nomeadamente na América Latina e em África – é uma
boa oportunidade conhecer o que aconteceu e pensar sobre o que não mais deverá acontecer.
Obrigado, História!
Cuidado, Economia e Política!
Fonte jornalística: Silva, R. (2017)
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