Os estudiosos dos currículos gostam de distinguir entre
«currículo enunciado» (o que o Ministério da Educação aprova), «currículo do
manual» (o modo como o anterior é tratado em cada manual escolar), «currículo
implementado» (o que é posto em prática por cada professor), «currículo
aprendido» (o que cada aluno aprende), «currículo avaliado» (o que é verificado
ter sido ou não aprendido) - etc., etc..
Estas distinções podem ajudar a perceber o que se passa na
educação formal, e nas suas salas de aula, mas não ajudam perceber como se
relacionam aqueles que estão envolvidos na educação.
Em 2015, o Museu Nacional
de Arte Antiga, pretendendo divulgar a
exposição «Coming Out – e se o museu saísse
à rua?», afixou réplicas de trinta e um dos
seus quadros na Baixa de Lisboa.
Ao fim de dois meses tinham
desaparecido catorze dessas réplicas. Mas quatro, o «Retrato do Conde de
Farrobo», o «São Damião», o «Retrato do Senhor de Noirmont» e «Conversação»,
continuavam acessíveis à contemplação de qualquer um - mas do outro lado do
rio, na Outra Banda:
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O «Retrato do Senhor Noirmont»,
na Outra Banda (fotografia de André Costa, parcialmente reproduzida) |
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O «São Damião», na Outra Banda (fotografia de André Costa, parcialmente reproduzida) |
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O «Conde de Farrobo», na Outra
Banda (fotografia de André Costa, parcialmente reproduzida) |
Segundo o jornal «Observador», os
autores desta mudança foram dois jovens (que não se quiseram identificar),
tendo um deles esclarecido: “Não é roubo, é
um deslocamento.” Desde o início os dois pretendiam
colocar estas réplicas perto das suas casas, num bairro entre o Laranjeiro
(Almada) e Miratejo (Seixal): “Gostámos
muito da atividade do museu e achámos que devia ser alargado a outros sítios”.
Quem também parece ter gostado foram os moradores do
bairro situado junto da Avenida Professor Rui Luís Gomes. “Ninguém tentou levar nem vandalizar, está intacto. Há
pessoas que disseram que era o quadro mais bonito que já tinham visto”, conta um dos promotores da mudança. Ali, a pintura “ganha outra magnitude”;
e seria bom que estes quatro quadros “levassem
gente de fora ao bairro” para os ver, tal
como acontece aos quadros que ainda estão no Chiado.
Para o director do Museu
Nacional de Arte Antiga, António Filipe Pimentel, esta pequena exposição criada
no bairro da Outra Banda foi uma ideia “divertida”. “É de facto muito
engraçado transportar a «Coming Out» para a rua do seu próprio bairro!” “Eu achava que a
exposição não durava 48 horas. O receio coletivo era que seria vandalizada e o
que acontece é exatamente o contrário, uma apropriação da exposição pelas
pessoas, em vários registos, mas sempre positivos”.
Passados dois anos, os espaços
que tinham sido ocupados pelos quatro quadros estão vazios:
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(fotografia de Eva Maria Blum, em 18 de Novembro de 2017) |
O que foi um «currículo
reclamado» é agora um «currículo vazio».
Ficou por resolver, duradouramente,
o problema enunciado por Karl Popper (mensagem
«0077»): “(…)
a nossa pedagogia consiste em sobrecarregar as crianças com respostas, sem que
elas tenham colocado questões, e às perguntas que fazem não se presta atenção”. “Esta é a pedagogia habitual: respostas sem perguntas e perguntas sem
respostas.”
Fontes: sobre os diferentes currículos, artigo de Reys &
Reys (2011); sobre os Robins das Artes, notícia em «O Observador» acedida
através de http://observador.pt/2015/12/06/robin-das-artes-tirou-quatro-quadros-do-chiado-e-deu-os-ao-miratejo/; e livro em que Karl
Popper é co-autor (1990; p. 49)
Ao reflectir sobre esta mensagem quando iniciei a reestruturação da página «Currículo», cheguei à conclusão que o seu título deveria ser alterado (existe uma luta entre a «transmissão» e a «apropriação», e é bom que não acabe a favor de nenhuma das partes, antes estas aprendam, ao lutarem, uma com a outra); portanto, altere o título na «página», mas deixei-o inalterado nesta «mensagem»
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