sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

[0009] Jerome Bruner: as visões «cultural» e «computacional» sobre a «mente humana»

Eis como Jerome Bruner, em «Cultura da Educação» (2000), descreve estas duas visões sobre a mente humana, e o seu conflito:

Algumas “mudanças fundamentais” conduziram a “duas concepções divergentes acerca do modo com o funciona a mente” humana, a “visão computacionalista” (p. 17) e o “culturalismo” (p. 19)

“O objectivo do computacionalismo é estabelecer uma redescrição de todo e qualquer sistema de funcionamento que gere o fluxo de informação correcta. Tal sistema é a mente humana. Mas o computacionalismo sério não defende que a mente seja semelhante a um particular «computador» que necessita de ser «programado» de uma certa forma em ordem a operar sistematicamente ou «com eficácia». O que ele defende é antes que todo e qualquer sistema que processa informação tem de ser governado por «regras» específicas ou procedimentos que determinem o que fazer com os dados recebidos.” (p. 22)
Este esforço é interessante pela luz que projecta “na linha divisória entre a produção de significação e o processamento de informação.” É a “prefixação de categorias que impõe o limite mais severo ao computacionalismo enquanto meio no qual se há-de enquadrar um modelo de mente.” Se se reconhecer “tal limitação, a alegada luta de morte entre culturalismo e computacionalismo desvanece-se.” (p. 23)

A “produção de significação” do culturalismo é, “ao contrário do processamento de informação do computacionalismo”, “interpretativa, carregada de ambiguidade, sensível à ocasião e, frequentemente, em harmonia com a circunstância. Os seus «mal formados procedimentos» assemelham-se mais a «máximas» do que a regras totalmente especificáveis. Mas dificilmente são desprovidos de princípios.” (p. 23)


“Não há modo de decisão conhecido que possa resolver a questão de ser algum dia possível ultrapassar a incomensurabilidade entre a produção de significação do culturalismo e o processamento computacional de informação.” (pp. 24-25) mas, quanto a isto “ambos têm uma afinidade que é difícil ignorar. É que, uma vez estabelecidas as significações, é a sua formalização num sistema de categorias bem formado que pode ser tratado mediante as regras computacionais.” (p. 25)


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