O primeiro TIMSS (Trends in
International Mathematics and Science Study: Estudo Internacional sobre as Tendências em
Matemática e Ciências) foi realizado em 1995, tendo depois sido repetido
de 4 em 4 anos.
Portugal participou
nas edições de 1995, 2011 e 2015.
O primeiro PISA (Programme for
International Student Assessment: Programa Internacional de Avaliação de Alunos)
foi realizado em 2000, tendo depois sido repetido de 3 em 3 anos.
Portugal participou
em todas as edições.
Os resultados
dos estudos do TIMSS e do PISA de 2015 foram recentemente divulgados. Os nossos
alunos do 4º ano ficaram muito bem
posicionados no TIMSS, em Matemática, não tanto em Ciências. E no PISA, os nossos alunos de 15 anos ultrapassaram, pela
primeira vez, a média internacional nos três domínios analisados, Ciências,
Leitura e Matemática.
Diversos dos nossos responsáveis
pela educação e quase todos os comentadores mostraram-se eufóricos devido a
estes resultados. Eis uma primeira ideia acerca do motivo dessa euforia:
Resultados do TIMSS (alunos que frequentavam o 4º ano em 2015):
(inserido no artigo de Clara Viana no «Público» de 30
de Novembro de 2016)
Resultados do PISA (alunos com 15 anos em 2015):
(inserido no
artigo de Clara Viana e Samuel Silva no «Público» de 7 de Dezembro de
2016)
(inserido no
artigo de Clara Viana e Samuel Silva)
É preciso diversificar o estudo das diferenças (interesses, capacidades) dos nossos alunos (no TIMSS e no PISA apenas são estudadas três tipos de diferenças, muito marcadas pelo incentivo a uma economia de base técnica).
Espanta-me que os resultados dos
nossos alunos tenham progredido num período de tempo em que o ambiente das
escolas piorou muito, discrepância que tem sido assinalada por poucos
observadores (uma excepção: José Morgado, no seu blogue «Atenta Inquietude»).
Como os encarar então?
Para esboçar uma possível resposta,
organizo-a em função de duas questões.
(A) Que significam estes resultados?
Indesmentivelmente, os «resultados»
destes nossos jovens foram melhores que os «resultados» de outros nossos jovens
em anos anteriores, em «testes deste tipo». Sobre «Ciências», «Leitura» e «Matemática».
Mas estes resultados não são
homogéneos. Tanto entre os jovens portugueses de 15 anos como entre os das
outras nacionalidades, manifesta-se uma «diferença de género», os moços
melhores em Ciências e Matemática, as moças em Leitura:
(B) Que queremos saber?
Uma das críticas que têm sido
feitas aos testes internacionais (e também aos exames nacionais) é a de eles
acabarem por «estreitar o currículo»: começa-se a pensar naquele tipo de
desempenho, e acaba-se a trabalhar para os «resultados» (assim foi reconhecido,
a propósito do TIMSS, pelos nossos ex-ministros Maria de Lurdes Rodrigues e
Nuno Crato).
Os países participantes nos testes
internacionais são tentados a reagir deste modo, havendo no entanto algumas
excepções.
A Finlândia, que até 2006 obteve
muito bons resultados, parece ser uma dessas excepções. Eero Väätäinen, que
coordenou uma escola e o sector da educação duma cidade, descreveu assim o
espírito das reformas educativas na Finlândia:
“Não devemos esquecer que as crianças não
andam na escola para fazer testes. Elas vêm aprender a vida, encontrar o seu
próprio caminho. Acaso se pode avaliar a vida?”
A partir de 2009 começaram a
destacar-se alguns países asiáticos, que hoje ocupam todos os primeiros
lugares. Um investigador educacional finlandês, Jouni Välijärvi, comentou assim
esta evolução:
“A forma como os países conseguem bons
resultados é completamente diferente. Esse é o reverso da medalha destes
estudos internacionais que incentivam a imitação. Os países podem aprender uns
com os outros, mas tem que se ter muito cuidado em transplantar modelos.”
E depois procedeu a duas
comparações. Em relação ao ensino “mais centrado no bem-estar e felicidade das
crianças do que nos resultados académicos” que se pratica na Dinamarca (outro
país com tradição educativa norte-europeia), sublinhou que “o modelo finlandês
mistura os dois factores, preocupa-se com a felicidade e com a parte cognitiva”.
Já em relação à Coreia do Sul as distâncias foram muito mais acentuadas; na
Finlândia, notou,
“Quando se está na escola está-se
concentrado na escola, quando se sai vai-se fazer outras coisas, são tempos
perfeitamente separados. Na Coreia, os alunos levantam-se às 6h00 e voltam a
casa às 21h00, e ainda têm que fazer trabalhos de casa. Para estes jovens, a
escola e a educação são tudo na vida. Os finlandeses, entre tempo na escola e
trabalhos de casa, passam um total de 30 horas por semana, face a 50 horas da
Coreia.”
Concluindo:
É preciso diversificar o estudo das diferenças (interesses, capacidades) dos nossos alunos (no TIMSS e no PISA apenas são estudadas três tipos de diferenças, muito marcadas pelo incentivo a uma economia de base técnica).
E é preciso explicitar e debater
o que queremos que seja a preparação dos nossos jovens, se exclusivamente para
a competição no mercado de trabalho, se para um futuro de cooperação entre
todos.
O TIMSS é da responsabilidade da IEA (International Association for the Evaluation of Educational Achievement:
Associação Internacional para a Avaliação dos Resultados Educativos), cujo sítio é: www.iea.nl/.
E o PISA é da responsabilidade da OECD
(Organisation for Economic Cooperation and Development: Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico),
cujo sítio é: www.oecd.org.
Fontes:
Instituto de Avaliação Educativa
Väätäinen, citado por Descamps (2013)
Väätäinen, citado por Descamps (2013)
Välijärvi, citado por Gomes (2011)
Viana (2016)
Viana e Silva
(2016)
Bom trabalho, Pedro.
ResponderEliminar