domingo, 11 de dezembro de 2016

[0007] TIMSS e PISA: que dizer dos resultados portugueses de 2015?

O primeiro TIMSS (Trends in International Mathematics and Science Study: Estudo Internacional sobre as Tendências em Matemática e Ciências) foi realizado em 1995, tendo depois sido repetido de 4 em 4 anos.
Portugal participou nas edições de 1995, 2011 e 2015.

O primeiro PISA (Programme for International Student Assessment: Programa Internacional de Avaliação de Alunos) foi realizado em 2000, tendo depois sido repetido de 3 em 3 anos.
Portugal participou em todas as edições.

Os resultados dos estudos do TIMSS e do PISA de 2015 foram recentemente divulgados. Os nossos alunos do 4º ano ficaram muito bem posicionados no TIMSS, em Matemática, não tanto em Ciências. E no PISA, os nossos alunos de 15 anos ultrapassaram, pela primeira vez, a média internacional nos três domínios analisados, Ciências, Leitura e Matemática.
Diversos dos nossos responsáveis pela educação e quase todos os comentadores mostraram-se eufóricos devido a estes resultados. Eis uma primeira ideia acerca do motivo dessa euforia:

Resultados do TIMSS (alunos que frequentavam o 4º ano em 2015):
(inserido no artigo de Clara Viana no «Público» de 30 de Novembro de 2016)

Resultados do PISA (alunos com 15 anos em 2015):
(inserido no artigo de Clara Viana e Samuel Silva no «Público» de 7 de Dezembro de 2016)

Espanta-me que os resultados dos nossos alunos tenham progredido num período de tempo em que o ambiente das escolas piorou muito, discrepância que tem sido assinalada por poucos observadores (uma excepção: José Morgado, no seu blogue «Atenta Inquietude»).
Como os encarar então?
Para esboçar uma possível resposta, organizo-a em função de duas questões.

(A) Que significam estes resultados?

Indesmentivelmente, os «resultados» destes nossos jovens foram melhores que os «resultados» de outros nossos jovens em anos anteriores, em «testes deste tipo». Sobre «Ciências», «Leitura» e «Matemática».
Mas estes resultados não são homogéneos. Tanto entre os jovens portugueses de 15 anos como entre os das outras nacionalidades, manifesta-se uma «diferença de género», os moços melhores em Ciências e Matemática, as moças em Leitura:

(inserido no artigo de Clara Viana e Samuel Silva)

(B) Que queremos saber?

Uma das críticas que têm sido feitas aos testes internacionais (e também aos exames nacionais) é a de eles acabarem por «estreitar o currículo»: começa-se a pensar naquele tipo de desempenho, e acaba-se a trabalhar para os «resultados» (assim foi reconhecido, a propósito do TIMSS, pelos nossos ex-ministros Maria de Lurdes Rodrigues e Nuno Crato).
Os países participantes nos testes internacionais são tentados a reagir deste modo, havendo no entanto algumas excepções.
A Finlândia, que até 2006 obteve muito bons resultados, parece ser uma dessas excepções. Eero Väätäinen, que coordenou uma escola e o sector da educação duma cidade, descreveu assim o espírito das reformas educativas na Finlândia:
“Não devemos esquecer que as crianças não andam na escola para fazer testes. Elas vêm aprender a vida, encontrar o seu próprio caminho. Acaso se pode avaliar a vida?”
A partir de 2009 começaram a destacar-se alguns países asiáticos, que hoje ocupam todos os primeiros lugares. Um investigador educacional finlandês, Jouni Välijärvi, comentou assim esta evolução:
“A forma como os países conseguem bons resultados é completamente diferente. Esse é o reverso da medalha destes estudos internacionais que incentivam a imitação. Os países podem aprender uns com os outros, mas tem que se ter muito cuidado em transplantar modelos.”
E depois procedeu a duas comparações. Em relação ao ensino “mais centrado no bem-estar e felicidade das crianças do que nos resultados académicos” que se pratica na Dinamarca (outro país com tradição educativa norte-europeia), sublinhou que “o modelo finlandês mistura os dois factores, preocupa-se com a felicidade e com a parte cognitiva”. Já em relação à Coreia do Sul as distâncias foram muito mais acentuadas; na Finlândia, notou,
“Quando se está na escola está-se concentrado na escola, quando se sai vai-se fazer outras coisas, são tempos perfeitamente separados. Na Coreia, os alunos levantam-se às 6h00 e voltam a casa às 21h00, e ainda têm que fazer trabalhos de casa. Para estes jovens, a escola e a educação são tudo na vida. Os finlandeses, entre tempo na escola e trabalhos de casa, passam um total de 30 horas por semana, face a 50 horas da Coreia.”

Concluindo:

É preciso diversificar o estudo das diferenças (interesses, capacidades) dos nossos alunos (no TIMSS e no PISA apenas são estudadas três tipos de diferenças, muito marcadas pelo incentivo a uma economia de base técnica).
E é preciso explicitar e debater o que queremos que seja a preparação dos nossos jovens, se exclusivamente para a competição no mercado de trabalho, se para um futuro de cooperação entre todos.

O TIMSS é da responsabilidade da IEA (International Association for the Evaluation of Educational Achievement: Associação Internacional para a Avaliação dos Resultados Educativos), cujo sítio é: www.iea.nl/.
E o PISA é da responsabilidade da OECD (Organisation for Economic Cooperation and Development: Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), cujo sítio é: www.oecd.org.

Fontes:
Instituto de Avaliação Educativa
Väätäinen, citado por Descamps (2013)
Välijärvi, citado por Gomes (2011)
Viana (2016)
Viana e Silva (2016)

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