domingo, 18 de dezembro de 2016

[0011] Na arte do Azulejo também pode haver Matemática

O Azulejo não teve origem em Portugal, embora aqui tenha tido um interessante desenvolvimento.

Há azulejos perto da maioria das escolas. Compreender porque eles possuem certos motivos (figuras; padrões), porque foram e são usados, como foram e são feitos – eis desafios interessantes para diversas disciplinas: as Artes, a História e, nalguns casos (sobretudo nos azulejos que possuem um padrão), a Matemática.

Para estudar os possíveis «padrões» que a repetição de um determinado Azulejo produz numa parede a Matemática procura verificar se nela existem transformações geométricas.
Duas das perguntas que devem então ser feitas são:

Existe na parede deste azulejo uma simetria em relação a um eixo?


Um exemplo em que existem duas famílias de eixos de simetria, verticais:


Existe na parede deste azulejo um centro de rotação?

Neste exemplo existem quatro famílas de centros de rotação, de 180º:


(estas duas imagens figuram num «pdf» da autoria de Ana Almeida; pp. 3 e 27)

Há, no entanto, mais algumas perguntas a fazer e mais alguns casos a considerar.

Eis como o artista Eduardo Néry descreveu o «azulejo de padrão»:

No azulejo, o conceito de padrão encontra-se intimamente ligado ao da repetição de um motivo gráfico ou pictórico, organizado segundo eixos de simetria ou de outros esquemas estruturantes, quase sempre de raiz geométrica, mesmo quando os motivos ornamentais se inspiram na natureza.
Os padrões em azulejo têm por base a forma quadrada dos seus módulos e uma malha geométrica, que é a retícula quadrangular formada pelas juntas de um painel. Daí que seja desejável que os criadores de padrões destinados a azulejo se apoiem preferentemente na geometria do quadrado, ou seja, nas diagonais, nas medianas, no centro, nos seus quatro vértices e, de um modo geral, numa subdivisão interna baseada nestes elementos, quer se trate de padrões estruturados com base num só azulejo, ou em mais.
Contudo, existem verdadeiros padrões nos quais a geometria do quadrado parece ter sido metida entre parêntesis, ou mesmo ignorada. Porém, se a malha quadrangular modular também for ignorada, então encontramo-nos no domínio a pintura artística sobe azulejo.
Normalmente, espera-se que cada padrão se mantenha assim até ao infinito. Alguns padrões poderão admitir pequenas variações de forma ou de cor sem se descaracterizarem, mas em regra geral as alterações na sua forma ou na sua cor originam novos padrões, como variantes dos anteriores. Configurações mais complexas, a busca da variedade, em lugar da repetição, ultrapassam os limites estritos do padrão e da sua coerência interna, dando lugar ao conceito de composição, significando um grau mais elaborado de um espaço decorado.
Por outro lado, quando o padrão é fortemente reduzido, a ponto de não se perceberem os motivos formadores (apresentando-se como uma superfície relativamente indiferenciada), sem pontos privilegiados de atenção, entramos no domínio das texturas. Aliás, quando apreciamos um padrão de azulejo a grande distância, por exemplo, numa fachada, ele dá lugar a uma textura, a menos que os motivos sejam muito grandes, como em certas superfícies exteriores com duas cores em xadrez., ou seja, organizadas com base no padrão mais elementar em azulejo. Consequentemente, o efeito de escala visual é indissociável deste binómio padrão / textura, aspecto particularmente importante para aqueles que são chamados a projectar padrões de azulejo para a arquitectura, exterior ou interior.
Outro aspecto ligado ao conceito de padrão de repetição regular, é o ser relativamente compacto, sendo raros os casos em que o afastamento dos motivos constitutivos, com o correspondente afrouxamento das ligações visuais entre eles, não «empurre» estas superfícies para as texturas ou para a pintura sobre cerâmica.
Outro aspecto característico nos padrões é o facto de se encontrarem intimamente ligados à percepção de superfícies bidimensionais na arquitectura, que o azulejo poderá caracterizar de forma muito vinculativa, nomeadamente ao nível de ritmos formais e cromáticos.
(citado em Saporiti, 1998; pp. 199 e 201)

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