A convicção de que o jogo
pressupõe a competição está muito
difundida, podendo ter origem no facto de os momentos mais visíveis de muitos
jogos ocorrerem quando eles servem para encontrar um vencedor.
Tratando-se de jogos de reflexão, como encarar esta convicção?
Primeiro argumento: o
potencial de qualquer jogo de reflexão coloca perguntas fundamentais e, de cada
vez que ele é jogado, o que fica são os contributos para responder a essas
perguntas.
Uma dessas perguntas é: um dos jogadores tem uma estratégia
vencedora?
No caso do Jogo do Galo a resposta é: nenhum dos dois
jogadores tem uma estratégia vencedora; jogando bem, este jogo termina com um
empate.
Nem todo a gente o sabe, por isso este jogo continua a ser
jogado (embora, pouco a pouco, comece a ser substituído por outros de que não
se conhece a resposta àquela pergunta).
No caso do Xadrez não é conhecida uma estratégia
vencedora, pelo que se colocam outras perguntas, havendo respostas definitivas,
ou apenas razoáveis, para várias delas.
Uma das respostas definitivas diz respeito a posições de
jogo típicas, acerca das quais se pode enunciar, como no diagrama seguinte: as
brancas jogam e dão mate em 3 lances.
Estes problemas são
semelhantes aos que originam muitos dos teoremas enunciados na Matemática, como,
por exemplo: o produto de um número par por um número ímpar é um
número par.
Segundo argumento:
é frequente aqueles que se envolvem em jogos de reflexão trocarem opiniões
sobre eles e chegarem a conclusões partilhadas.
Assim acontece com os jogadores de Xadrez quando acabam uma
partida.
E também acontece para além das partidas concretas que são
jogadas. Lembro-me de dois alunos meus que se defrontavam frequentemente no Abalone.
Este joga-se num tabuleiro hexagonal, onde 14 bolas negras e 14 bolas brancas são
empurradas até que um dos jogadores perde 6 das suas bolas. Apesar de se defrontarem
constantemente, eles foram apurando uma técnica defensiva que servia para
qualquer deles. Segundo pensavam, ela permitia às bolas que a usassem resistir
contra os empurrões das outras, e era constituída por uma disposição das bolas
a que chamaram «rosa»:
Com esta disposição, as bolas negras defendem-se em quase todas
as direcções com o alinhamento de, pelo menos, 3 bolas (só podem ser empurradas
2 bolas ou 1 bola).
Terceiro argumento:
também há jogos de reflexão cujas regras visam a cooperação, não a competição.
Pois: há dois meses ofereceram-me um jogo de reflexão com
estas características, o Ilha Proibida: é destinada a 2, 3 ou 4
jogadores, que cooperam para salvar o património arqueológico de uma ilha
ameaçada pela subida do nível do mar …
Fonte (para a «rosa»): Esteves (1998; VI.I.1)
Ah!
A solução do problema de Xadrez:
Sem comentários:
Enviar um comentário