quarta-feira, 1 de novembro de 2017

[0081] Num Jogo de Reflexão: compete-se ou coopera-se?

A convicção de que o jogo pressupõe a competição está muito difundida, podendo ter origem no facto de os momentos mais visíveis de muitos jogos ocorrerem quando eles servem para encontrar um vencedor.
Tratando-se de jogos de reflexão, como encarar esta convicção?

Primeiro argumento: o potencial de qualquer jogo de reflexão coloca perguntas fundamentais e, de cada vez que ele é jogado, o que fica são os contributos para responder a essas perguntas.

Uma dessas perguntas é: um dos jogadores tem uma estratégia vencedora?
No caso do Jogo do Galo a resposta é: nenhum dos dois jogadores tem uma estratégia vencedora; jogando bem, este jogo termina com um empate.
Nem todo a gente o sabe, por isso este jogo continua a ser jogado (embora, pouco a pouco, comece a ser substituído por outros de que não se conhece a resposta àquela pergunta).

No caso do Xadrez não é conhecida uma estratégia vencedora, pelo que se colocam outras perguntas, havendo respostas definitivas, ou apenas razoáveis, para várias delas.
Uma das respostas definitivas diz respeito a posições de jogo típicas, acerca das quais se pode enunciar, como no diagrama seguinte: as brancas jogam e dão mate em 3 lances.



Estes problemas são semelhantes aos que originam muitos dos teoremas enunciados na Matemática, como, por exemplo: o produto de um número par por um número ímpar é um número par.

Segundo argumento: é frequente aqueles que se envolvem em jogos de reflexão trocarem opiniões sobre eles e chegarem a conclusões partilhadas.

Assim acontece com os jogadores de Xadrez quando acabam uma partida.

E também acontece para além das partidas concretas que são jogadas. Lembro-me de dois alunos meus que se defrontavam frequentemente no Abalone. Este joga-se num tabuleiro hexagonal, onde 14 bolas negras e 14 bolas brancas são empurradas até que um dos jogadores perde 6 das suas bolas. Apesar de se defrontarem constantemente, eles foram apurando uma técnica defensiva que servia para qualquer deles. Segundo pensavam, ela permitia às bolas que a usassem resistir contra os empurrões das outras, e era constituída por uma disposição das bolas a que chamaram «rosa»:


Com esta disposição, as bolas negras defendem-se em quase todas as direcções com o alinhamento de, pelo menos, 3 bolas (só podem ser empurradas 2 bolas ou 1 bola).

Terceiro argumento: também há jogos de reflexão cujas regras visam a cooperação, não a competição.

Pois: há dois meses ofereceram-me um jogo de reflexão com estas características, o Ilha Proibida: é destinada a 2, 3 ou 4 jogadores, que cooperam para salvar o património arqueológico de uma ilha ameaçada pela subida do nível do mar …

Fonte (para a «rosa»): Esteves (1998; VI.I.1)

Ah! A solução do problema de Xadrez:


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