Os relevos de Lachish são o 21º objecto descrito em «Uma
História do Mundo em 100 Objetos» por Neil MacGregor, director do Museu
Britânico. Foram encontrados no palácio do rei Senaqueribe, em Nínive (perto da
actual Mossul), tendo sido esculpidos entre 700 e 692 a. C.. Por essa altura o império assírio
estendia-se desde o Irão ao Egipto, cobrindo quase todo o território a que hoje
se chama Médio Oriente.
Lachish (actualmente Tell ed-Duweir) era então
a segunda cidade do reino da Judeia, a seguir a Jerusalém, situada
no ponto crucial onde o Mediterrâneo e o Egipto se ligavam à Mesopotâmia. Nos
finais do século VIII a. C., Ezequias, o seu rei, rebelou-se contra os assírios.
E Senaqueribe invadiu-lhe o reino, conquistando a cidade de Lachish.
Este painel, em baixo-relevo, tem cerca de 2,5 metros de
altura e estaria situado a toda a volta de uma sala do palácio de Senaqueribe,
em Nínive, provavelmente pintado a cores. Nele se conta, como num filme épico,
a marcha do exército assírio, as lutas resultantes do cerco de Lachish, a
sangrenta conquista da cidade, a fuga dos sobreviventes, a cidade em chamas, o
desfile dos prisioneiros, Senaqueribe triunfante …
Consciente do persistente paralelismo histórico deste
episódio, MacGregor pediu um testemunho a Lorde Ashdown, longamente experiente
no custo humano da guerra, especialmente pelo seu trabalho nos Balcãs:
“Vi campos
de refugiados por todos os Balcãs e, francamente, nunca consegui evitar que as
lágrimas me viessem aos olhos, porque o que via era a minha irmã, a minha mãe,
a minha mulher e os meus filhos. Vi sérvios expulsos por bósnios, e bósnios
expulsos por croatas, croatas expulsos por sérvios e por aí adiante. Vi ainda o
mais infame de tudo, os refugiados ciganos, um grande campo de refugiados,
talvez 40 a 50 mil, a cargo do meu exército, a NATO. E ficámos a olhar enquanto
as suas casas eram queimadas e eles eram expulsos dos seus lares. E isso fez-me
sentir não só desesperadamente triste, mas também envergonhado. O que é
verdade, e o relevo [de Lachish] mostra, é, em certo sentido, o carácter
imutável e inalterável da guerra. Há sempre guerras, há sempre mortes, há
sempre refugiados. Os refugiados são uma espécie de destroços e carga deitada
ao mar. São abandonados quando a guerra termina.”
Fonte bibliográfica: MacGregor (2014; pp. 143-146)
Fonte da imagem:
www.britishmuseum.org/explore/a_history_of_the_world/objects
(em Janeiro de 2015)
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