sábado, 3 de junho de 2017

[0045] O foco mesopotâmico da agricultura, as tabuinhas de argila e as primeiras cidades

A Mesopotâmia, situada em torno do rio Tigre e do rio Eufrates (e correspondendo, aproximadamente, ao actual Iraque), terá sido o mais importante dos focos da agricultura. O trigo já se encontrava aí completamente domesticado há 9,5 mil anos, sendo possível que a cevada tenha sido domesticada antes, por se poder semear em várias estações do ano e se adaptar a uma maior variedade de terrenos.
A alimentação foi aí enriquecida com os açúcares proporcionados por estes dois cereais e ainda pelas proteínas das lentilhas e das ervilhas, duas leguminosas. E o vestuário recebeu os contributos do linho para a tecelagem.

Por volta de 3 000 a. C. os excedentes da agricultura na Mesopotâmia permitiram que aí surgissem as primeiras cidades, com 30 a 40 mil pessoas. É dessa época o 15º objecto descrito em «Uma História do Mundo em 100 Objetos» por Neil MacGregor, director do Museu Britânico

Trata-se de uma tabuinha de argila com 9 por 7 centímetros, originária do Sul do Iraque. Está dividida em três filas, cada uma com quatro divisões. Em cada uma destas divisões, os sinais devem ser lidos de cima para baixo e da direita para a esquerda, antes de prosseguir para a divisão seguinte. Nesta tabuinha, o assunto era a cerveja, a principal bebida na Mesopotâmia, onde a sua distribuição aos trabalhadores era racionada.


Explica MacGregor: a literatura antiga era “oral, apreendida de cor e depois recitada ou cantada. As pessoas escreviam o que não sabiam de cor, o que não conseguiam verter em verso.” “Dinheiro, leis, comércio, emprego: estes são os tópicos da primeira escrita, e foi a escrita que mudou, em última análise, a natureza do domínio e do poder estatal. Só mais tarde a escrita se mudou das rações [de cerveja] para as emoções; os contabilistas chegaram a ela primeiro que os poetas.

No Norte da Mesopotâmia, durante o terceiro milénio antes de Cristo, Mari é a grande cidade. Segundo o arqueólogo Jean-Claude Margeron, Mari funciona em rede com outras cidades, ligadas por canais e por rotas. Ela “controla a rota do cobre e de outros metais que vem da Anatólia e se dirige para a Babilónia”, situada no Sul da Mesopotâmia, onde se situam as cidades de Uruk e de Ur. “Ela assegura, para seu benefício, o transporte e até a transformação e venda destes materiais. Nela a metalurgia do cobre e do bronze é decisiva.

Reconstituição de Mari, nas margens do Eufrates,
em que é visível o canal que atravessaria a cidade

Fontes bibliográficas: Mazoyer, entrevistado (2000; pp. 93-94); MacGregor (2014; pp. 56, 87 e 105-110); Margeron, entrevistado (2015)
Fontes das imagens: www.britishmuseum.org/explore/a_history_of_the_world/objects (em Janeiro de 2015); Público, 3 de Maio de 2017

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