A Mesopotâmia, situada em torno do
rio Tigre e do rio Eufrates (e correspondendo, aproximadamente, ao actual Iraque), terá sido o mais importante dos
focos da agricultura. O trigo já se encontrava aí completamente domesticado
há 9,5 mil anos, sendo possível que a cevada tenha sido domesticada antes, por se
poder semear em várias estações do ano e se adaptar a uma maior variedade de
terrenos.
A alimentação foi aí enriquecida
com os açúcares proporcionados por estes
dois cereais e ainda pelas proteínas das
lentilhas
e das ervilhas,
duas leguminosas. E o vestuário recebeu os contributos do linho para a tecelagem.
Por
volta de 3 000 a. C. os excedentes da agricultura na Mesopotâmia permitiram que
aí surgissem as primeiras cidades, com 30 a 40 mil pessoas. É dessa época o
15º objecto descrito em «Uma História do Mundo em 100 Objetos» por Neil MacGregor,
director do Museu Britânico
Trata-se de uma tabuinha de argila com 9 por 7 centímetros, originária
do Sul do Iraque. Está dividida em três filas, cada uma com quatro divisões. Em
cada uma destas divisões, os sinais devem ser lidos de cima para baixo e da
direita para a esquerda, antes de prosseguir para a divisão seguinte. Nesta
tabuinha, o assunto era a cerveja, a principal bebida na Mesopotâmia, onde a
sua distribuição aos trabalhadores era racionada.
Explica MacGregor: a literatura
antiga era “oral, apreendida de cor e depois
recitada ou cantada. As pessoas escreviam o que não sabiam de cor, o que não
conseguiam verter em verso.” “Dinheiro,
leis, comércio, emprego: estes são os tópicos da primeira escrita, e foi a
escrita que mudou, em última análise, a natureza do domínio e do poder estatal.
Só mais tarde a escrita se mudou das rações [de cerveja] para as emoções; os contabilistas
chegaram a ela primeiro que os poetas.”
No Norte da Mesopotâmia, durante o terceiro milénio antes de Cristo, Mari é a grande cidade. Segundo o arqueólogo Jean-Claude Margeron, Mari funciona
em rede com outras cidades, ligadas por canais e por rotas. Ela “controla a rota do cobre e de outros metais que vem da
Anatólia e se dirige para a Babilónia”,
situada no Sul da Mesopotâmia, onde se
situam as cidades de Uruk e de Ur. “Ela assegura,
para seu benefício, o transporte e até a transformação e venda destes
materiais. Nela a metalurgia do cobre e do bronze é decisiva.”
Reconstituição de Mari, nas
margens do Eufrates,
em que é visível o canal que atravessaria a cidade
Fontes bibliográficas: Mazoyer, entrevistado (2000; pp. 93-94); MacGregor
(2014; pp. 56, 87 e 105-110); Margeron,
entrevistado (2015)
Fontes das imagens: www.britishmuseum.org/explore/a_history_of_the_world/objects
(em Janeiro de 2015); Público, 3 de Maio de 2017
Sem comentários:
Enviar um comentário