Foi em 1958 que Roger Caillois (1913 - 1978), sociólogo,
publicou esta sua reflexão, hoje clássica, sobre os «jogos».
Para ele, o jogo é “uma
actividade:
1.
– livre:
uma vez que, se o jogador fosse a ela obrigado, o jogo perderia de imediato a
sua natureza de diversão atraente e alegre;
2.
– delimitada: circunscrita a limites de
espaço e de tempo, rigorosa e previamente estabelecidos;
3.
– incerta: já que o seu desenrolar não
pode ser determinado nem o resultado obtido previamente, e já que é
obrigatoriamente deixado à iniciativa do jogador uma certa liberdade na
necessidade de inventar;
4.
– improdutiva: porque não gera nem bens,
nem riqueza nem elementos novos de espécie alguma; e, salvo alteração de
propriedade no interior do círculo dos jogadores, conduz a uma situação
idêntica à do início da partida;
5.
– regulamentada: sujeita a convenções que
suspendem as leis normais e que instauram momentaneamente uma legislação nova,
a única que conta;
6.
– fictícia:
acompanhada de uma consciência específica de uma realidade outra, ou de franca
irrealidade em relação à vida normal.”
Para tentar captar a diversidade das atitudes subjacentes ao
jogar,
Caillois propôs quatro categorias principais, “conforme
predomine, nos jogos considerados, o papel da competição, da sorte, do
simulacro ou da vertigem.”
Exemplos: a competição predomina
no jogo da bola, do berlinde, das damas; a sorte
predomina na roleta e na lotaria; o simulacro
nos jogos em que se «faz de»; e a vertigem em
jogos como o baloiço e o carrossel.
E, em jeito de advertência final, comenta assim a relação
que se estabelece com o jogo e as disciplinas que o estudam:
“O jogo é um fenómeno total. Diz
respeito ao conjunto das actividades e dos anseios humanos. Poucas são as
disciplinas – da pedagogia às matemáticas, passando pela história e pela
sociologia – que o podem estudar proveitosamente sem um desvio qualquer. Todavia,
seja qual for o alcance teórico ou prático dos resultados obtidos em cada uma
das perspectivas particularizadas, tais resultados permanecerão destituídos do
seu significado e da sua verdadeira aplicação, se não forem encarados por
referência ao principal problema que é colocado pelo universo indivisível dos
jogos, donde, aliás, retiram o interesse que podem suscitar.”
Fonte: Caillois (1990; pp. 29-39, 32 e 202)
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