Resumo da argumentação que levou as Ciências Sociais a organizar
esta Conferência Internacional:
“Esta conferência pretende interrogar a hipertrofia
dos estudos sobre a memória, que corresponde a um estado do saber e das
sociedades, sobretudo desde os anos de 1980, quando o optimismo se diluiu e o
futuro pareceu tornar-se passado. Essa viragem, coetânea de mudanças ao nível
das sociedades, requer uma reflexão em torno dos usos do passado, como
artefacto do presente (Lowenthal, 1985), sujeitos às relações de forças dentro
das sociedades. A actual obsessão do passado é uma resposta substitutiva às
urgências do presente ou, mesmo, uma recusa do futuro (Rousso, 1994: 280).
Pretende interrogar-se a relação com as fontes que falam, que questione a
teoria e os métodos, entre a memória e a história oral, numa abordagem em que
os saberes de fronteira de várias disciplinas têm de ser convocados. Terreno
não pacificado, a memória continua a ser um interessante problema para as
ciências sociais. Intensificou-se como objeto de estudo, materializado em
formatos de património, no decurso dos anos 1980. Conquanto memórias
traumáticas com as dos fascismos e do nazismo pudessem ter sido alvo de um
trabalho anterior dos investigadores, e que a memória tenha hoje o estatuto de
religião civil do mundo ocidental, o processo de passagem de memória fraca a
memória forte não foi imediato (Traverso, 2005:54-59). Quando a topolatria se
tornou central, por que razões se ergueram lugares de memória, ao mesmo tempo
que desapareciam os meios de memória? Que dificuldades surgem na criação de
lugares de memória de situações conflituais? Como se recorda o trauma e o
acontecimento? Quando adquiriu a memória tal centralidade nas Ciências Sociais?
Estudamos cada vez mais a memória porque as sociedades se ressentem de uma
ausência de esperança? Que relação estabelece o presentismo, como denegação do
devir, com os usos da memória? Qual a conexão entre a experiência e a
expectativa, e quanto (e qual...) passado se resgata para o futuro? Num tempo
em que se tornou ecuménico o património, que relação estabelece a memória com
ele, entre a beleza do morto e novos caminhos? Qual o papel da cultura na
construção de uma força material das ideias? Em processos de exibição e
musealização do passado, como lidamos com a memória das ditaduras e os
processos de transição para as democracias? Que espaço se consagra ao devir na
pesquisa em ciências sociais?”
Fonte: sítio do Instituto de História Contemporânea
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