sábado, 1 de abril de 2017

[0031] O papel central do Azulejador

A propósito da mensagem «0029»:

Houve uma época em que o Azulejador (ou Ladrilhador) era o principal responsável pela execução das obras de azulejo.

Segundo a investigadora Rosário Salema de Carvalho, o mais antigo regulamento conhecido desta profissão em Portugal data de 1608, tendo a sua capa o seguinte aspecto:

Regimento do Ofício de Ladrilhadores (1608)

E, acrescenta, há provas de que durante o período barroco (1675 – 1750) a cadeia operatória entre a «encomenda» e a «aplicação» do azulejo seria, frequentemente, a seguinte (a interpretação é minha):


Uma das preocupações do Azulejador, continua Rosário Salema de Carvalho, visava garantir a localização de cada azulejo no respectivo painel, para que o pintor os pintasse já nessa posição. Para tal, o Azulejador marcava no verso (ou «tardoz») dos azulejos a letra e o número correspondentes às suas posições (como num sistema de coordenadas matemáticas), acrescentando um sinal identificador do painel a que pertenciam.
Em 1985 o pintor Manuel Cargaleiro, pretendendo homenagear os Azulejadores, executou um painel de azulejos em que representou esta sua discreta mas central tarefa:

Composição de tardoz

Questões:

Haveria outras profissões que utilizavam sistemas de representação semelhantes? Desde quando o fariam?
E que inspiração mútua terá ocorrido entre esses sistemas de representação e o sistema de coordenadas matemáticas proposto por René Descartes (1596 – 1650) no seu «Discurso do Método» (1637)?

Curiosidades:

O sistema de notação algébrico usado no Xadrez baseia-se num sistema de coordenadas semelhante ao dos Azulejadores:


O mesmo acontece com o sistema usado para localizar ruas no mapa de uma cidade e com o sistema de notação usado no jogo da «Batalha Naval».

Apoio bibliográfico («pdf») para o texto e para a 1ª e a 3ª imagens: Carvalho (2015)

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