sábado, 7 de janeiro de 2017

[0015] Um olhar para as 14 mensagens de 2016

TENTATIVAS PARA COMPREENDER A MENTE HUMANA

Jerome Bruner (2000; pp. 22 e 23):

Para o computacionalismo, a mente humana, como “qualquer sistema que processa informação”, “tem de ser governado por «regras» específicas ou procedimentos que determinem o que fazer com os dados recebidos.”
Para o culturalismo, a mente humana é “interpretativa, carregada de ambiguidade, sensível à ocasião e, frequentemente, em harmonia com a circunstância. Os seus «mal formados procedimentos» assemelham-se mais a «máximas» do que a regras totalmente especificáveis. Mas dificilmente são desprovidos de princípios.”
É a “prefixação de categorias que impõe o limite mais severo ao computacionalismo”. Se se reconhecer “tal limitação, a alegada luta de morte entre culturalismo e computacionalismo desvanece-se.”
[mensagem 0009]

Ainda Jerome Bruner (2000; pp. 65 e 164):

“Aparentemente, são dois os modos genéricos como os seres humanos organizam e gerem o seu conhecimento do mundo, e até estruturam a sua experiência imediata: um parece mais especializado para tratar de «coisas» físicas, o outro, para tratar das pessoas e das suas obrigações. A estes se chamam convencionalmente o pensamento lógico-científico e o pensamento narrativo.”
O pensamento lógico-científico é ajuizado “mediante a verificação ou a prova – ou, mais precisamente, através da sua verificabilidade ou testabilidade”.
O pensamento narrativo é julgado “com base na verosimilhança ou na sua afinidade com a vida.”


COMO OS ADULTOS PENSAM QUE AS CRIANÇAS APRENDEM

Jerome Bruner (2000; pp. 81 a 86, 90 e 91) descreveu quatro “modelos dominantes”:

As crianças enquanto aprendizes por imitação: a aquisição do «saber-fazer”.
“Do ponto de vista da imitação, a competência apenas se atinge através da prática.” “O conhecimento «desenvolve-se como um hábito» e não se prende nem a teorias nem a negociações ou discussão.”
As crianças que aprendem a partir de uma exposição didáctica. A aquisição de conhecimento proposicional.”
“O objecto de aprendizagem para o aluno é concebido como estando «na» mente dos professores, tanto como nos livros, nos mapas, na arte, na base de dados, seja onde for.” Isso pressupõe que “a mente infantil é passiva, qual receptáculo apto a ser preenchido.”
“A perspectiva didacticista vê a criança de fora (…). É nitidamente de via única: o ensino não é um diálogo mútuo, mas um ditado de um para outrem.”
As crianças enquanto pensadores. O desenvolvimento do intercâmbio intersubjectivo.”
“O professor (…) preocupa-se em perceber o que a criança pensa e como chega àquilo em que acredita” “Exercer a pedagogia é ajudar a criança a entender melhor, mais consistentemente, menos unilateralmente.” “A criança não é puramente ignorante nem um recipiente vazio, é antes alguém capaz de raciocinar, de encontrar sentido, tanto por si mesma como através da discussão com os outros.”
As crianças enquanto detentoras de conhecimento: A gestão do conhecimento «objectivo»”.

O “ensino deveria auxiliar as crianças a captar a distinção entre o conhecimento pessoal, por um lado, e «aquilo que é tido por conhecido» pela cultura, por outro. Porém, elas não devem só captar esta distinção, mas também entender a base que a sustenta, por assim dizer, na história do conhecimento.”

[mensagem 00012]

Um exemplo do terceiro destes modelos, baseado na experiência que todos acumulamos quando jogamos os chamados Jogos de Reflexão (que vão desde o Jogo do Galo às Damas e ao Xadrez): essa experiência pode ser mobilizada como um apoio para outras aprendizagens, como as da demonstração, em Matemática
[mensagem 0004]

Um exemplo do quarto destes modelos, embora ilustrado no caso de um adulto, foi a história do genial matemático indiano Srinivasa Ramanujan
António Fernandes (2016; p. 43) comentou assim o modo como a exigência prematura de «rigor» pode matar a «criatividade»: “O facto é que absoluto rigor e criatividade nem sempre caminham lado a lado, nem mesmo em Matemática. E num processo que conduz à demonstração de um resultado matemático, existem períodos criativos, imaginativos, e especulativos, eventualmente menos rigorosos, como é típico das actividades exploratórias em território desconhecido.”
[mensagem 0002]


OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS COMO RESERVATÓRIO DE CONHECIMENTO

Jerome Bruner (2000; pp. 80-81):

“Há coisas que cada indivíduo sabe (mais do que ele próprio julga); mais ainda conhece o grupo ou é passível de ser descoberto por meio da discussão em grupo; e muito mais ainda se encontra armazenado algures – na «cultura», isto é, nas cabeças das pessoas mais sabedoras, nos directórios, nos livros, nos mapas, e por aí adiante.”
[mensagem 0006]

Paulus Gerdes, através da Etnomatemática, estudou um exemplo dos conhecimentos armazenados pelas culturas africanas, definindo assim os seus estudos (2007; pp. 42-43): a etnomatemática “é o campo que estuda ideias matemáticas nos seus contextos histórico-culturais”; “Cada povo – cada cultura e sub cultura – desenvolve a sua própria matemática, de certa maneira específica.”

[mensagem 0010]

Paulus Gerdes e a Etnomatemática


Um exemplo (não só português) que poderia ser estudado pela etnomatemática: o Azulejo de Padrão.
Eduardo Néry (citado por Saporiti, 1998; p. 199) descreveu assim este tipo de azulejo:
“No azulejo, o conceito de padrão encontra-se intimamente ligado ao da repetição de um motivo gráfico ou pictórico, organizado segundo eixos de simetria ou de outros esquemas estruturantes, quase sempre de raiz geométrica, mesmo quando os motivos ornamentais se inspiram na natureza.”

[mensagem 0011]


A INTERACÇÃO ENTRE «CULTURA» E «EDUCAÇÃO»

Jerome Bruner (2000; p. 70):

“A educação é uma complexa procura no sentido de ajustar uma cultura às necessidades dos seus membros e de ajustar os seus membros e seus modos de conhecer às necessidades da cultura.”
[mensagem 0006]

Alguns exemplos de actividades culturais que podem ser retomadas na educação como base para novas aprendizagens:

As Magias.
Disse um dia o arquitecto Manuel Vicente: “primeiro [aprende-se] com o encantamento e depois com o conhecimento.”
[mensagem 0008]

E os Labirintos.
[mensagem 0013]e [mensagem 0014]

Um exemplo de como a luta entre culturas pode implicar a existência de uma luta no interior da educação:
Uma das críticas que têm sido feitas aos testes internacionais (e também aos exames nacionais) é a de eles acabarem por «estreitar o currículo». Por isso é interessante olhar para o exemplo da Finlândia que, até 2006 obteve muito bons resultados. Eero Väätäinen (citado por Descamps, 2013) que coordenou uma escola e o sector da educação duma cidade, descreveu assim o espírito das reformas educativas na Finlândia:
“Não devemos esquecer que as crianças não andam na escola para fazer testes. Elas vêm aprender a vida, encontrar o seu próprio caminho. Acaso se pode avaliar a vida?”
A partir de 2009 começaram a destacar-se alguns países asiáticos, que hoje ocupam todos os primeiros lugares. Um investigador educacional finlandês, Jouni Välijärvi (citado por Gomes, 2011) procedeu à seguinte comparação:
“Na Coreia, os alunos levantam-se às 6h00 e voltam a casa às 21h00, e ainda têm que fazer trabalhos de casa. Para estes jovens, a escola e a educação são tudo na vida. Os finlandeses, entre tempo na escola e trabalhos de casa, passam um total de 30 horas por semana, face a 50 horas da Coreia.”
[mensagem 0007]


TENTATIVAS PARA CRIAR OUTROS MODELOS CURRICULARES

O Earth Science Curriculum Project (1973) foi testado ao longo de dois anos lectivos (1964-66) por um vasto grupo de professores norte-americanos, que usaram as primeiras ideias nas suas escolas. Este projecto pretendia que a aprendizagem no Ensino Básico se baseasse na história integrada do planeta Terra, em vez de ser precocemente sujeita às habituais subdivisões em Astronomia, Biologia, Ecologia, Física, Geografia, Geologia, Meteorologia, Paleontologia, Química – e até, nalguns aspectos, em Matemática

[mensagem 0001]





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