O 16º dos dezassete Objectivos
do Desenvolvimento Sustentável (ODS) é:
E,
em https://unric.org/pt/objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel,
foi-nos apresentado assim:
Objetivo 16: Paz, Justiça e Instituições Eficazes
Reduzir
significativamente todas as formas de violência e as taxas de mortalidade com
ela relacionadas, em todos os lugares
Acabar com o abuso,
exploração, tráfico e todas as formas de violência e tortura contra as crianças
Promover o Estado
de Direito, ao nível nacional e internacional, e garantir a igualdade de acesso
à justiça para todos
Até 2030, reduzir
significativamente os fluxos ilegais financeiros e de armas, reforçar a
recuperação e devolução de recursos roubados e combater todas as formas de
crime organizado
Reduzir
substancialmente a corrupção e o suborno em todas as suas formas
Desenvolver
instituições eficazes, responsáveis e transparentes em todos os níveis
Garantir a tomada
de decisão responsável, inclusiva, participativa e representativa em todos os
níveis
Ampliar e fortalecer
a participação dos países em desenvolvimento nas instituições de governação
global
Até 2030, fornecer
identidade legal para todos, incluindo o registo de nascimento
Assegurar o acesso
público à informação e proteger as liberdades fundamentais, em conformidade com
a legislação nacional e os acordos internacionais
Fortalecer as
instituições nacionais relevantes, inclusive através da cooperação
internacional, para a construção de melhor capacidade de resposta em todos os
níveis, em particular nos países em desenvolvimento, para a prevenção da
violência e o combate ao terrorismo e ao crime
Promover e fazer
cumprir leis e políticas não discriminatórias para o desenvolvimento
sustentável.
Qualqur dos ODS
é interpretado a seu modo por quem para eles quer contribuir.
Uma das instituições cuja missão é suposto contribuir para este objectivo para
o 16º ODS é o Vaticano. E a encíclica Fratelli
tutti, do Papa
Francisco, é um desses contributos. E foi assim divulgada pela «Vatican News»:
“Fraternidade e amizade social são os caminhos
indicados pelo Pontífice para construir um mundo melhor, mais justo e pacífico,
com o compromisso de todos: pessoas e instituições. Reafirmado com vigor o não
à guerra e à globalização da indiferença.
Quais são os grandes ideais mas também os caminhos
concretos para aqueles que querem construir um mundo mais justo e fraterno nas
suas relações quotidianas, na vida social, na política e nas instituições? Esta
é a pergunta à qual pretende responder, principalmente, «Fratelli tutti»: o Papa
define-a como uma «Encíclica Social» que toma o seu título das «Admoestações» de São Francisco de Assis, que usava essas palavras
«para se dirigir a todos os irmãos e irmãs e lhes propor uma forma de vida
com sabor do Evangelho»de social. No pano de fundo, há a pandemia da Covid-19 que - revela
Francisco - «irrompeu de forma inesperada quando eu estava escrevendo esta carta». Mas a
emergência sanitária global mostrou que «ninguém se salva sozinho» e que chegou
realmente o momento de «sonhar como uma única humanidade», na qual somos "todos irmãos».
No primeiro de oito capítulos, intitulado «As sombras dum mundo fechado», o documento debruça-se sobre as muitas distorções
da época contemporânea: a manipulação e a deformação de conceitos como
democracia, liberdade, justiça; o egoísmo e a falta de interesse pelo bem
comum; a prevalência de uma lógica de mercado baseada no lucro e na cultura do
descarte; o desemprego, o racismo, a pobreza; a desigualdade de direitos e as
suas aberrações como a escravatura, o tráfico de pessoas, as mulheres
subjugadas e depois forçadas a abortar, o tráfico de órgãos. Estes são
problemas globais que requerem ações globais, sublinha o Papa, apontando o dedo
também contra uma «cultura de muros» que favorece a proliferação de máfias, alimentadas pelo medo e pela
solidão.
A muitas sombras, porém, a Encíclica responde com um
exemplo luminoso, o do bom samaritano, a quem é dedicado o segundo capítulo, «Um estranho no caminho». Nele, o Papa assinala que, numa sociedade doente que vira as costas à
dor e é «analfabeta» no cuidado dos mais frágeis e vulneráveis, somos todos chamados a estar
próximos uns dos outros, superando preconceitos e interesses pessoais. De fato,
todos nós somos corresponsáveis na construção de uma sociedade que saiba
incluir, integrar e levantar aqueles que sofrem. O amor constrói pontes e nós «somos feitos
para o amor», acrescenta o Papa, exortando em particular os cristãos a reconhecerem
Cristo no rosto de cada pessoa excluída. O princípio da capacidade de amar
segundo «uma dimensão universal» é também retomado no terceiro capítulo, «Pensar e gerar um
mundo aberto»: nele, Francisco exorta cada um de nós a «sair de si
mesmo» para encontrar nos outros «um acrescentamento de ser», abrindo-nos
ao próximo segundo o dinamismo da caridade que nos faz tender para a «comunhão
universal»). Afinal – recorda a Encíclica - a estatura espiritual da vida humana é
medida pelo amor que nos leva a procurar o melhor para a vida do outro. O
sentido da solidariedade e da fraternidade nasce nas famílias que devem ser protegidas
e respeitadas na sua «missão educativa primária e imprescindível».
O direito a viver com dignidade não pode ser negado
a ninguém, afirma ainda o Papa, e uma vez que os direitos são sem fronteiras,
ninguém pode ser excluído, independentemente do local onde nasceu. Deste ponto
de vista, o Papa lembra também que é preciso pensar numa «ética das
relações internacionais», porque cada país é também do estrangeiro e os bens do território não podem
ser negados àqueles que têm necessidade e vêm de outro lugar. O direito natural
à propriedade privada será, portanto, secundário em relação ao princípio do
destino universal dos bens criados. A Encíclica também coloca uma ênfase
específica na questão da dívida externa: embora se mantenha o princípio de que
toda a dívida legitimamente contraída deve ser paga, espera-se, no entanto, que
isto não comprometa o crescimento e a subsistência dos países mais pobres.
Ao tema das migrações é, ao invés, dedicado em parte
o segundo e todo o quarto capítulo, «Um coração aberto ao mundo inteiro»: com as suas «vidas dilaceradas», em fuga das guerras, perseguições, catástrofes
naturais, traficantes sem escrúpulos, arrancados das suas comunidades de
origem, os migrantes devem ser acolhidos, protegidos, promovidos e integrados.
Nos países destinatários, o justo equilíbrio será entre a proteção dos direitos
dos cidadãos e a garantia de acolhimento e assistência aos migrantes. Especificamente,
o Papa aponta algumas «respostas indispensáveis» especialmente para aqueles que fogem de «graves crises
humanitárias»: incrementar e simplificar a concessão de vistos; abrir corredores
humanitários; oferecer alojamento, segurança e serviços essenciais; oferecer
possibilidade de trabalho e formação; favorecer a reunificação familiar;
proteger os menores; garantir a liberdade religiosa. O que é necessário acima
de tudo - lê-se no documento -, é uma legislação (governance) global
para as migrações que inicie projetos a longo prazo, indo além das emergências
individuais, em nome de um desenvolvimento solidário de todos os povos.
O tema do quinto capítulo é «A política melhor», ou seja, a
que representa uma das formas mais preciosas da caridade porque está ao serviço
do bem comum e conhece a importância do povo, entendido como uma categoria
aberta, disponível ao confronto e ao diálogo. Este é o popularismo indicado por
Francisco, que se contrapõe ao «populismo» que ignora a legitimidade da noção de «povo», atraindo
consensos a fim de instrumentalizar ao serviço do seu projeto pessoal. Mas a
melhor política é também a que protege o trabalho, «uma dimensão
indispensável da vida social» e procura assegurar que cada um tenha a
possibilidade de desenvolver as suas próprias capacidades. A verdadeira estratégia
contra a pobreza, afirma a Encíclica, não visa simplesmente conter os
necessitados, mas a promovê-los na perspectiva da solidariedade e da
subsidiariedade. A tarefa da política, além disso, é encontrar uma solução para
tudo o que atenta contra os direitos humanos fundamentais, tais como a exclusão
social; tráfico de órgãos, e tecidos humanos, armas e drogas; exploração
sexual; trabalho escravo; terrorismo e crime organizado. Forte o apelo do Papa
para eliminar definitivamente o tráfico de seres humanos, «vergonha para
a humanidade», e a fome, porque é «criminosa» porque a alimentação é «um direito
inalienável».
A política da qual há necessidade, sublinha ainda
Francisco, é aquela centrada na dignidade humana e que não está sujeita à
finança porque «o mercado por si só, não resolve tudo»: os «estragos» provocados pela especulação financeira mostraram-no.
Assumem, portanto, particular relevância os movimentos populares: verdadeiros «torrentes de
energia moral», devem ser envolvidos na sociedade, de uma forma coordenada. Desta forma
- afirma o Papa -, pode-se passar de uma política «para» os pobres
para uma política «com» e «dos» pobres. Outro desejo presente na Encíclica diz respeito à reforma da
ONU: perante o predomínio da dimensão económica, de fato, a tarefa das Nações Unidas será dar
uma real concretização ao conceito de «família de nações», trabalhando para o bem comum, a erradicação da
pobreza e a proteção dos direitos humanos. Recorrendo incansavelmente à «negociação,
aos mediadores e à arbitragem» - afirma o documento pontifício - a ONU deve
promover a força da lei sobre a lei da força.
Do sexto capítulo, «Diálogo e amizade social», emerge também
o conceito de vida como «a arte do encontro» com todos, também com as periferias do mundo e com os povos originais,
porque «de todos se pode aprender alguma coisa, ninguém é inútil, ninguém é
supérfluo». Particular, então, a referência do Papa ao «milagre da
amabilidade», uma atitude a ser recuperada porque é «uma estrela na escuridão» e uma «libertação da
crueldade, da ansiedade que não nos deixa pensar nos outros, da urgência
distraída» que prevalecem em época contemporânea. Reflete sobre o valor e a
promoção da paz, o sétimo capítulo, intitulado «Percursos dum novo
encontro», no qual o Papa sublinha que a paz é «proativa» e visa formar uma sociedade baseada no serviço aos
outros e na busca da reconciliação e do desenvolvimento mútuo. A paz é uma «arte» em que cada
um deve desempenhar o seu papel e cuja tarefa nunca termina. Ligado à paz está
o perdão: devemos amar todos sem exceção - lê-se na Encíclica -, mas amar um
opressor significa ajudá-lo a mudar e não permitir que ele continue a oprimir o
seu próximo. Perdão não significa impunidade, mas justiça e memória, porque
perdoar não significa esquecer, mas renunciar à força destrutiva do mal e da
vingança. Nunca esquecer «horrores» como a Shoah, os bombardeamentos atómicos em Hiroshima e Nagasaki,
perseguições e massacres étnicos - exorta o Papa - devem ser sempre recordados,
novamente, para não nos anestesiarmos e manterem viva a chama da consciência
coletiva. E também é importante fazer memória do bem.
Parte do sétimo capítulo se detém, então, sobre a
guerra: «uma ameaça constante», que representa a «negação de todos os direitos», «o fracasso da
política e da humanidade», «a vergonhosa rendição às forças do mal». Além disso, devido às armas nucleares, químicas e
biológicas que afetam muitos civis inocentes, hoje já não podemos pensar, como
no passado, numa possível «guerra justa», mas temos de reafirmar fortemente «Nunca mais a
guerra!» A eliminação total das armas nucleares é «um imperativo moral e humanitário»; em vez disso
- sugere o Papa - com o dinheiro do armamento deveria ser criado um Fundo
Mundial para acabar de vez com a fome. Francisco expressa uma posição
igualmente clara sobre a pena de morte: é inadmissível e deve ser abolida em
todo o mundo. «O homicida não perde a sua dignidade pessoal - escreve o Papa – e o
próprio Deus Se constitui seu garante». Ao mesmo tempo, a necessidade de respeitar «a sacralidade
da vida» é reafirmada onde «partes da humanidade parecem sacrificáveis», tais como os nascituros, os pobres, os
deficientes, os idosos.
No oitavo e último capítulo, o Pontífice se detém
sobre «Religiões ao serviço da
fraternidade no mundo» e reitera
que o terrorismo não se deve à religião, mas a interpretações erradas de textos
religiosos, bem como a políticas de fome, pobreza, injustiça e opressão. Um
caminho de paz entre a religiões é, portanto, possível; por isso, é necessário
garantir a liberdade religiosa, direito humano fundamental para todos os
crentes. Uma reflexão, em particular, a Encíclica faz sobre o papel da Igreja:
ela não relega a sua missão à esfera privada e, embora não fazendo política,
não renuncia à dimensão política da existência, à atenção ao bem comum e à
preocupação pelo desenvolvimento humano integral, segundo os princípios
evangélicos.
Enfim, Francisco cita o «Documento
sobre a fraternidade humana em prol da paz mundial e da convivência comum», assinado por
ele mesmo em 4 de fevereiro de 2019 em Abu Dhabi, junto com o Grande Imã de
Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyib: desta pedra miliar do diálogo inter-religioso, o
Pontífice retoma o apelo para que, em nome da fraternidade humana, o diálogo
seja adoptado como caminho, a colaboração comum como conduta, e o conhecimento
mútuo como método e critério.”
Neste blogue, os dezassete Objectivos do Desenvolvimento
Sustentável foram genericamente apresentados na mensagem «0080».
Depois foi feita uma apresentação específica, com um comentário, aos seguintes
objectivos: erradicar a pobreza (mensagens
«0154», «0196» e «0206»), erradicar a fome
(«0157»), saúde de qualidade («0169»), educação de qualidade
(«0176»), igualdade de género («0178»), água potável e saneamento («0239»), energias
renováveis e acessíveis («0244»), trabalho
digno e crescimento económico («0267»), indústria,
inovação e infraestruturas («0275»), reduzir
as desigualdades («0294»), cidades e
comunidades sustentáveis («0314»), produção
e consumo sustentáveis («0324»), acção climática («0334»), proteger a vida marinha e proteger
a vida terrestre («0339»).
Fonte: além da referida acima (ONU), ainda a notícia, publicada em 4 de outubro de 2020 na Vatican News, https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2020-10/a-nova-enciclica-social-fratelli-tutti.html
Sem comentários:
Enviar um comentário