Se definirmos Memória como qualquer
informação, em suporte material ou imaterial, que nos proporciona pistas sobre
como foi o passado, então as pegadas de Laetoli, descobertas em 1978 pelos
paleontologistas Mary Leakey e Paul Abell, são um exemplo de «memória».
A interpretação destas memórias
involuntárias, e o seu cruzamento com outras memórias, geológicas e
paleontológicas, permitiram concluir que aqueles que as produziram seriam provavelmente
Australopithecus afarensis, pois foram encontrados fósseis desta espécie
nos mesmos níveis sedimentares da região onde este trilho se situa. E permitiram
afirmar que estes nossos antepassados já eram bípedes, com um formato de pés
muito próximo dos nossos, e que andavam quase como nós.
De acordo com a definição ensaiada acima, estas conclusões
já não são Memória.
Podemos chamar-lhes várias coisas, desde Ciência a Património,
pois elas resultaram da acção de quem ainda caminha sobre as cinzas que os
tempos de hoje emitiram e que ainda arrefecem sob os nossos pés. Só voltarão a
ser Memória quando uma nova camada de cinzas as
recobrir durante o tempo suficiente para que nos esqueçamos que elas existiram.
Fonte descritiva das pegadas: sítio do Smithsonian National Museum of Natural
History
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