segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

[0097] As escolhas da educação interagem com as escolhas da vida

Uma das razões pelas quais os testes internacionais têm sido criticados diz respeito à sua influência no «estreitamento do currículo» (mensagem 0007).
É interessante observar como as sociedades dos países que participam nesses testes podem encarar de modos muito diferentes a relação entre a «educação» e a «vida», como isso tem ou não implicações nos resultados internacionais que obtém e como dão ou não importância a esses resultados.
A Finlândia obteve, até 2006, muito bons resultados no PISA, tendo sido ultrapassada em 2009 por alguns países asiáticos (que, desde aí, continuam a disputar os primeiros lugares). O espírito com que foram empreendidas as suas reformas educativas foi assim descrito por Eero Väätäinen, que foi responsável pela educação numa cidade finlandesa: “Não devemos esquecer que as crianças não andam na escola para fazer testes. Elas vêm aprender a vida, encontrar o seu próprio caminho. Acaso se pode avaliar a vida?” E Jouni Välijärvi, um investigador educacional finlandês, explicou deste modo porque houve uma mudança entre os países com melhores resultados no PISA: “Na Coreia, os alunos levantam-se às 6h00 e voltam a casa às 21h00, e ainda têm que fazer trabalhos de casa. Para estes jovens, a escola e a educação são tudo na vida. Os finlandeses, entre tempo na escola e trabalhos de casa, passam um total de 30 horas por semana, face a 50 horas da Coreia.”

A sociedade finlandesa e a sociedade sul coreana fizeram duas escolhas muito distintas em relação à «educação», correspondentes a expressões do «sucesso educativo» e a modos de viver muito diferentes. É no entanto impossível que essas escolhas, tanto num como no outro caso, tenham sido consensuais.
Será possível, dentro de um mesmo país, haver diferentes escolhas, sem que as oportunidades de sucesso se percam? Essa parece ser a questão que actualmente se põe em Portugal, sermos capazes de compreender o que escolhemos (mensagens 0084 e 0091) e de o implementar através de uma estratégia de facto aberta (mensagens 0066 e 0093).

Fontes: Väätäinen (citado por Descamps, 2013); Välijärvi (citado por Gomes, 2011)

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