Uma das razões pelas quais os testes internacionais têm sido
criticados diz respeito à sua influência no «estreitamento do currículo» (mensagem 0007).
É interessante observar como as sociedades dos países que
participam nesses testes podem encarar de modos muito diferentes a relação entre
a «educação» e a «vida», como isso tem ou não implicações nos resultados
internacionais que obtém e como dão ou não importância a esses resultados.
A Finlândia obteve, até 2006, muito bons resultados no PISA,
tendo sido ultrapassada em 2009 por alguns países asiáticos (que, desde aí,
continuam a disputar os primeiros lugares). O espírito com que foram
empreendidas as suas reformas educativas foi assim descrito por Eero Väätäinen,
que foi responsável pela educação numa cidade finlandesa: “Não devemos esquecer que as crianças não andam na escola
para fazer testes. Elas vêm aprender a vida, encontrar o seu próprio caminho.
Acaso se pode avaliar a vida?” E Jouni Välijärvi, um investigador
educacional finlandês, explicou deste modo porque houve uma mudança entre os
países com melhores resultados no PISA: “Na Coreia,
os alunos levantam-se às 6h00 e voltam a casa às 21h00, e ainda têm que fazer
trabalhos de casa. Para estes jovens, a escola e a educação são tudo na vida.
Os finlandeses, entre tempo na escola e trabalhos de casa, passam um total de
30 horas por semana, face a 50 horas da Coreia.”
A sociedade finlandesa e a sociedade sul coreana fizeram
duas escolhas muito distintas em relação à «educação», correspondentes a expressões
do «sucesso educativo» e a modos de viver muito diferentes. É no entanto
impossível que essas escolhas, tanto num como no outro caso, tenham sido consensuais.
Será possível, dentro de um mesmo país, haver diferentes
escolhas, sem que as oportunidades de sucesso se percam? Essa parece ser a
questão que actualmente se põe em Portugal, sermos capazes de compreender o que
escolhemos (mensagens 0084 e 0091) e de o implementar através de uma estratégia
de facto aberta (mensagens 0066 e 0093).
Fontes: Väätäinen
(citado por Descamps, 2013); Välijärvi (citado por Gomes, 2011)
Sem comentários:
Enviar um comentário