O 40º objecto do Museu Britânico que o seu director, Neil
MacGregor, descreveu em «Uma História do Mundo em 100 Objetos» é um pimenteiro de prata.
Ele é contextualizado assim:
“Por
volta do ano 400, séculos de paz e prosperidade na Grã-Bretanha iam acabar em
caos. Por toda a Europa Ocidental o Império Romano desfazia-se numa série de
Estados sem viabilidade, e na Grã-Bretanha a presença romana preparava a
retirada. Em tais momentos é complicado ser rico. Deixa de haver proteção
militar organizada para proteger a riqueza ou os seus proprietários, e à medida
que escapavam iam deixando para trás alguns dos seus mais belos tesouros. O
nosso objeto pertence a uma fabulosa coleção de ouro e prata, enterrada no
campo de Hoxne, no Suffolk, cerca de 410, e encontrada mil e seiscentos anos
depois, em 1992.”
É uma pequena estátua de prata,
com cerca de 10 centímetros de altura, que representa uma grande dama romana,
ricamente vestida, com um penteado complexo e longos brincos, e que servia como
pimenteiro!
A pimenta é essencial para a boa
cozinha, e que os romanos ricos não a dispensavam. Como o lugar mais próximo
onde se encontrava era a Índia, era daí transportada por terra e mar até ao Mar
Vermelho e, depois de atravessar o deserto e chegar ao Nilo, era distribuída
por todo o mundo mediterrânico.
Para chegar às Ilhas Britânicas, a
pimenta que foi usada neste pimenteiro terá pois feito uma longa viagem. E dezasseis
séculos mais tarde, graças ao cuidado do agricultor que encontrou o tesouro de
Suffolk e ao trabalho dos especialistas que o estudaram, uma outra viagem, retrospectiva,
começou: a de compreendermos melhor a sua época, a partir das informações
proporcionadas pelos objectos a que ficou associada …
Fontes: livro
- MacGregor (2014; pp. 251-256); imagem - sítio do British Museum
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