domingo, 7 de janeiro de 2018

[0098] As viagens da pimenta

O 40º objecto do Museu Britânico que o seu director, Neil MacGregor, descreveu em «Uma História do Mundo em 100 Objetos» é um pimenteiro de prata.
Ele é contextualizado assim:

Por volta do ano 400, séculos de paz e prosperidade na Grã-Bretanha iam acabar em caos. Por toda a Europa Ocidental o Império Romano desfazia-se numa série de Estados sem viabilidade, e na Grã-Bretanha a presença romana preparava a retirada. Em tais momentos é complicado ser rico. Deixa de haver proteção militar organizada para proteger a riqueza ou os seus proprietários, e à medida que escapavam iam deixando para trás alguns dos seus mais belos tesouros. O nosso objeto pertence a uma fabulosa coleção de ouro e prata, enterrada no campo de Hoxne, no Suffolk, cerca de 410, e encontrada mil e seiscentos anos depois, em 1992.


É uma pequena estátua de prata, com cerca de 10 centímetros de altura, que representa uma grande dama romana, ricamente vestida, com um penteado complexo e longos brincos, e que servia como pimenteiro!

A pimenta é essencial para a boa cozinha, e que os romanos ricos não a dispensavam. Como o lugar mais próximo onde se encontrava era a Índia, era daí transportada por terra e mar até ao Mar Vermelho e, depois de atravessar o deserto e chegar ao Nilo, era distribuída por todo o mundo mediterrânico.
Para chegar às Ilhas Britânicas, a pimenta que foi usada neste pimenteiro terá pois feito uma longa viagem. E dezasseis séculos mais tarde, graças ao cuidado do agricultor que encontrou o tesouro de Suffolk e ao trabalho dos especialistas que o estudaram, uma outra viagem, retrospectiva, começou: a de compreendermos melhor a sua época, a partir das informações proporcionadas pelos objectos a que ficou associada …

Fontes: livro - MacGregor (2014; pp. 251-256); imagem - sítio do British Museum

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