domingo, 10 de maio de 2020

[0221] Descrever as distâncias sociais em termos de áreas e de densidades populacionais


Foi há quase dois meses que muitos dos que vieram a público explicar o que é uma pandemia, e o modo como nos poderíamos opor à sua marcha, precisaram de ir procurar ao seus sótãos a Matemática que lá tinham esquecida. O exemplo mais engraçado da atrapalhação que daí resultou foi assim cartoonizado por Luís Afonso:


Não parece que o barman e o cliente obedeçam, nesta tira, à disposição da Portaria, mas isso é pouco relevante face ao objectivo sério do cartoonista: mostrar-nos ser necessário descrever uma densidade populacional de um modo compreensível e simples de aplicar no dia-a-dia – neste caso, a densidade deveria ser igual ou inferior a 1 pessoa por 25 metros quadrados.

Uns dias depois deste cartoon, o mesmo jornal que o publicou usou a seguinte fotografia para exemplificar uma das técnicas como, na China, se estava a procurar contrariar a propagação da pandemia:


Utilizando como referência o quadriculado do pavimento, foi possível manter os operários, durante o almoço, a uma distância mútua de, pelo menos, 1,5 metros. Aqui, a densidade populacional será de 1 pessoa por cada quadrado de 1,5 metros de lado. E como a área deste quadrado é de 1,5 x 1,5 = 2,25 metros quadrados, então a densidade de operários na fotografia é de 1 pessoa por 2,25 metros quadrados.

Repare-se que esta densidade é muito maior que a da Portaria que Luís Afonso parodiou (para o mesmo número de pessoas, a redução da área implica o aumento da densidade). Dado que esta se referia a superfícies comerciais, onde há muita gente em movimento, é possível que nela se tenha querido exercer uma maior pressão para o afastamento entre as pessoas.

Portanto, tratando-se de pessoas paradas, poderá ser suficiente recomendar 1,5 metros como distância mínima de protecção. Mas, tratando-se de pessoas em movimento, a recomendação deve apontar distâncias de protecção maiores.

Em qualquer dos casos, não parece boa ideia usar áreas como referência (e muito menos «densidades populacionais», como eu fiz …), mas sim «distâncias», se possível semelhantes às medidas do corpo humano: a maioria das pessoas tem uma noção mínima das medidas que tem.

Para exercitar: na seguinte fotografia, em que Orson Welles interpreta a personagem que inspira o título do filme «Citizen Kane»,
·      Qual será, aproximadamente, a largura do quadrado desenhado a vermelho?
·      E qual a área desse quadrado?

Estimando as respostas a estas questões, estimaremos também a densidade populacional que a presença do cidadão Kane impõe na fotografia …


Imagens: respectivamente, cartoon de Luís Afonso (2020), fotografia usada pelo jornal «Público» no dia 25 de Março de 2020 e fotografia acessível através do Google e aqui transformada

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