O desejo de libertação que se começou a expressar com o 25
de Abril de 1974 nasceu muito antes de esse dia acontecer. Depois, levou anos a
afirmar-se, a confrontar-se, a resignar-se.
Hoje cresce um outro desejo de libertação, de que não
sabemos o dia em que o poderemos começar a expressar, e muito menos sabemos o
que se lhe seguirá. Todos queremos libertar-nos das várias prisões em que um
simples vírus nos encerrou, umas que nos protegem, outras que expõem os que se encontram ao
serviço dos que se protegem.
Respondendo ao desejo de muitos que pretendem libertar-se
destas prisões o mais cedo possível, escreveu o filósofo Bruno Latour:
“Isso é que não! Porque a última
coisa a fazer é repetir o que fizemos antes.”
“Pode haver algo de impróprio em
olhar assim para a era pós-crise, quando os profissionais de saúde estão «na
linha de frente», quando milhões de pessoas perdem os seus empregos e muitas
famílias enlutadas não podem sequer enterrar os seus mortos. E, no entanto, é
importante que agora tenhamos de lutar para que a recuperação económica, logo
que a crise passe, não repita o mesmo antigo regime capitalista anticlimático
contra o qual tentámos até agora, em vão, lutar. Se tudo parou, tudo pode ser
posto em causa.”
E como forma de imaginar libertações
que respondam a todos e a cada um, colocou-nos uma série de questões:
·
Das actividades
actualmente suspensas, quais são aquelas que gostaria que não fossem retomadas?
·
Porque considera
estas actividades: prejudiciais / desnecessárias / perigosas / incoerentes?
·
De que modo o seu
desaparecimento /suspensão / substituição facilitaria / tornaria mais coerentes
outras actividades que considera mais importantes?
·
Que medidas
preconiza para que os trabalhadores / funcionários / assalariados / empresários
que não poderão continuar a trabalhar nas actividades (que preconiza serem
suprimidas) sejam adoptadas para facilitar a transição para outras actividades?
·
Das actividades
agora interrompidas, quais são aquelas que gostaria de, no futuro, desenvolver /
retomar, ou quais seriam aquelas que deveriam ser inventadas em substituição
das primeiras?
Fonte: António
Pinto Ribeiro, no jornal «Público» de 22 de Abril (p. 31), onde cita Latour e
resume as suas questões
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