O historiador Rui Tavares colocou com frontalidade, num dos
seus artigos políticos de opinião, a seguinte pergunta: Precisamos de megamilionários?
Para tentar descreve o que é um megamilionário Rui Tavares começou por referir Calouste Gulbenkian,
considerado, em meados do século passado, o homem mais rico do mundo, com uma fortuna
que seria hoje equivalente a quase seis mil milhões de €uros.
O primeiro contributo que a Matemática pode prestar a esta
descrição é escrever este número com todos os algarismos que lhe são devidos:
6 000 000 000 de
€uros
Depois Rui Tavares refere o caso de Jeff Bezos, o actual sucessor
de Gulbenkian como homem mais rico do mundo. Aos 55 anos ele já tem uma fortuna
avaliada em cento e cinquenta mil
milhões de €uros, ou seja:
150 000 000 000 de
€uros
Fazendo as contas, Bezos é actualmente 25 vezes mais rico do
que Gulbenkian era 70 anos atrás.
Mas estes dois casos apenas dão uma ideia relativa da
riqueza de dois homens muitíssimo ricos. Por isso Rui Tavares procurou dar uma
ideia de quanto serão mil milhões de €uros por comparação com o que apenas 5 %
dos portugueses mais ricos auferem anualmente: 50 mil €uros. Se nada deste
montante fosse gasto (no dia-a-dia, ou com os impostos) nem aumentado (com
investimentos, ou com juros), seriam necessários:
20 anos para juntar 1 milhão
de €uros,
200 anos para juntar 10 milhões
de €uros,
2 000 anos para juntar 100 milhões
de €uros e
20 000 anos para juntar os tais 1 000 milhões
de €uros.
“Jeff Bezos tem 150 desses”, concluiu Rui Tavares.
A pergunta mais difícil de responder com o apoio da
Matemática é sobre o modo como se obtém tanto dinheiro. Poderá haver génio da
parte de quem o consegue, mas também há “exploração do trabalho de muita gente”
e um extenso aproveitamento dos “bens públicos”, esclareceu Rui Tavares.
É mais fácil responder ao que significa gastar individualmente
estas quantidades enormes de dinheiro. Supondo que o megamilionário gasta 1
€uro por segundo (propôs Rui Tavares), ele gastaria (calculo eu):
1 €uro por segundo x
60 x 60 x 24 = 86
400 de €uros por dia e
86 400 €uros por dia
x 365,25 = 31 557
600 de €uros por ano,
isto é, quase 32 milhões de €uros por ano, pelo que
necessitaria de aproximadamente 31 anos para gastar mil milhões e mais de 4 500
anos (mais ou menos a idade das pirâmides do Egipto) para gastar os 150 mil
milhões …
Resta pensar no significado de uma tal fortuna sob o ponto
de vista colectivo.
Para lhe responder, lembrou Rui Tavares, pode ter-se em
conta que a quantia de 150 mil milhões de €uros é maior do que o Produto
Interno Bruto de 125 países, “mais de metade das nações do mundo.” E (dado que os
montantes destas fortunas têm estado a crescer) em breve ultrapassará o Produto
Interno Bruto português, que anda pelos 200 mil milhões de €uros.
E um tal poder económico tem impacto no poder político (e
até militar), e aí a Matemática deixa de dar qualquer ajuda: ninguém deve “deter
sozinho tal poder”, escreveu Rui Tavares. Com ele dominar-se-ia a política e os
media de regiões inteiras do mundo e …
até se poderia dispor de um arsenal nuclear privado …
Fonte jornalística: Tavares (2019)
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