No início do século XV, D. João I passava algumas temporadas
em Sintra. Os seus aposentos no Palácio da Vila (também chamado, hoje, Palácio
Nacional de Sintra) situavam-se em volta de um pátio interior,
quadrangular, onde se ouvia correr a água e se estava rodeado por azulejos como
estes:
A pintura destes azulejos recorreu à técnica da corda-seca,
de modo a evitar que as diferentes cores se misturassem. E o seu motivo é
designado por pé-de-galo,
embora ele não esteja representado em cada azulejo - no caso deste painel, o pé-de-galo foi formado pelo modo como os
azulejos foram emparelhados horizontalmente (destaque, a vermelho, de um desses
pares):
Há no entanto um segredo na construção deste pé-de-galo: se apenas tivermos cópias do
azulejo da esquerda, não conseguimos rodá-las no plano de modo a obter a figura
proporcionada pelo azulejo da direita; ela só poderia surgir se tivéssemos um
azulejo da esquerda transparente e o virássemos do avesso (a parte de trás para
a frente).
Então, para formar um painel com o motivo pé-de-galo são necessários dois tipos de
azulejo, uns correspondentes ao azulejo da esquerda e outros ao azulejo da
direita.
Os azulejos pé-de-galo
entre os quais D. João I passeava junto aos seus aposentos no Palácio da Vila formavam
então painéis que possuíam as seguintes propriedades geométricas:
- duas famílias de espelhos, uma horizontal e outra vertical (a vermelho);
- uma família de espelhos verticais, com deslizamento (a azul), pois após a reflexão é necessário proceder a uma translação;
- três famílias de centros de rotação de 180º (a rosa).
Classificando matematicamente este painel (supostamente
infinito), de acordo com o organigrama da mensagem «0123», ele é do tipo cmm.
Fonte histórica: Ferro (2015; p. 17)
Fotografia: Eva Maria Blum
Desenhos: Pedro Esteves
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