Boaventura de Sousa Santos chamou a atenção
para que a complexidade do paradigma da modernidade tem sido distorcida a
favor de um dos seus pilares, o da «regulação».
Na minha opinião, a educação, pressionada pela opinião
social dominante, tem sido uma das formas de induzir os cidadãos mais novos nessa
distorção.
Para aqueles que o quiserem possam pensar, aqui vão alguns
excertos da posição deste empenhado sociólogo:
“O paradigma sócio-cultural da
modernidade surgiu entre o século XVI e os finais do século XVIII, antes de o
capitalismo industrial se ter tornado dominante nos actuais países centrais. A
partir daí, os dois processos convergiram e entrecruzaram-se, mas, apesar
disso, as condições e a dinâmica do desenvolvimento de cada um mantiveram-se
separadas e relativamente autónomas.”
“O paradigma da modernidade é
muito rico e complexo, tão susceptível de variações profundas como de desenvolvimentos
contraditórios. Assenta em dois pilares, o da regulação e o da emancipação,
cada um constituído por três princípios ou lógicas.”
Pilar da regulação:
o “princípio do
Estado, formulado essencialmente por Hobbes”, “consiste
na obrigação política vertical entre cidadãos e Estado”;
o “princípio do
mercado, desenvolvido sobretudo por Locke e por Adam Smith”, “consiste na obrigação política horizontal individualista
e antagónica entre os parceiros de mercado”;
o “princípio da
comunidade, que domina toda a teoria social e política de Rousseau”, “consiste na obrigação política horizontal solidária entre
membros da comunidade e entre associações”.
Pilar da emancipação, “constituído
pelas três lógicas de racionalidade definidas por Weber”:
“a racionalidade
estético-expressiva das artes e da literatura”;
“a racionalidade
cognitivo-instrumental da ciência e da técnica”;
“a racionalidade
moral-prática da ética e do direito”.
“Desde o início que se previra a
possibilidade de virem a surgir excessos e défices, mas tanto uns como outros
foram concebidos de forma reconstrutiva (...). Essa gestão reconstrutiva dos
excessos e dos défices foi progressivamente confiada à ciência e, de forma
subordinada, embora também determinante, ao direito. Promovida pela rápida
conversão da ciência em força produtiva, os critérios científicos de eficiência
e eficácia logo se tornaram hegemónicos, ao ponto de colonizarem gradualmente
os critérios racionais das outras lógicas emancipatórias.”
Fonte bibliográfica: Santos (2002; pp. 46-48)
Fonte da imagem:
blogue «Esencial o Menos» (de Juan José Guirado)
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