Tal como os azulejos com três peixes da mensagem anterior, este azulejo com forma pentagonal (e dimensões ortogonais de 14 cm e de 18 cm) também se encontra exposto no Museu Berardo Estremoz:
José Meco, no catálogo do museu, situa a sua produção no Império Timúrida, provavelmente em Samarcanda, por volta de 1425-1475, e contextualiza assim a sua origem:
A produção iraniana de cerâmica e de azulejos ganhou acentuado incremento no período Il-Khanid (1256-1335), durante o qual a capital esteve instalada em Tabriz (Azerbaijão), tendo-se então destacado o centro cerâmico de Kashan, pela excecional qualidade dos seus produtos e, especialmente, pela utilização de magníficos ornatos dourados. […]. As várias incursões mongóis que a Pérsia sofreu durante este período culminaram com a invasão de Tamerlão, em 1370, que deu origem ao império Timúrida, ou Mongol, o qual se estendeu pela maior parte da Ásia, deslocando a capital para Samarcanda, no atual Uzbequistão. Alguns centros cerâmicos da Pérsia foram destruídos durante este processo, como Ray e Saveh, mas Kashan manteve uma produção de excecional qualidade. Foi contudo Samarcanda, com o afluxo de artistas vindos de todo o império Timúrida, que se tornou o seu mais destacado centro cerâmico, e onde os revestimentos arquitetónicos ganharam extraordinário desenvolvimento, com o uso de mosaicos alicatados, de elaboradas placas relevadas ou de azulejos de formas variadas, decorados em corda seca, por vezes combinados com tijolos moldados e esmaltados, nomeadamente nas monumentais madrassas da cidade e nos esplendorosos mausoléus da necrópole de Shah Zindah. Os azulejos de corda seca, como o exemplar pentagonal […], eram feitos de barro vermelho, com a superfície sulcada pelas ranhuras preenchidas com manganês e gordura, separando os vários esmaltes opacos, de cores diversificadas, permitindo desenhos mais livres e variados.
Trata-se, portanto, de um azulejo anterior em algumas
décadas aos «azulejo mogol» (ver mensagem «0207»).
Se se admitir que este azulejo poderia ter feito parte de um painel constituído
por azulejos semelhantes, que padrão (ou que padrões) teria ele ajudado a
formar?
Seria interessante colocar este desafio aos alunos de uma escola (porque não de
Estremoz?!). Ou, ainda melhor, deixar que a sua curiosidade os leve a formulá-lo.
Dispondo de uma boa e adequadamente dimensionada fotografia, como a do catálogo,
o primeiro passo poderia ser: medir os cinco ângulos e os cinco lados,
para verificar se as medidas obtidas dizem algo.
Eu fi-lo. E, apesar da dificuldade de precisar os vértices do azulejo, cheguei
à conclusão de que deve ter havido a intenção de que quatro dos lados fossem
iguais, que dois ângulos fossem rectos e que os outros três medissem 120º:
O segundo passo poderia ser: reproduzir
vários exemplares em papel deste azulejo, para que os alunos possam fazer
experiências de constituição de padrões.
Eu obtive dois, mas deve haver muitos mais. Em ambos os casos será necessário
uma segunda forma de azulejo para que o painel fique completo.
Eis o primeiro caso (falta-lhe um azulejo em forma de losango):
E eis o segundo caso (falta-lhe um azulejo com a forma de um hexágono regular):
O terceiro passo, o mais interessante
matematicamente, poderia ser: verificar geometricamente que as soluções para os
padrões são rigorosas (é necessário considerar os ângulos internos do pentágono
e analisar cada um dos vértices deste padrão).
A este passo deverá estar associada a classificação matemática destes dois painéis
(usando o organigrama da mensagem «0123»):
no primeiro caso, a menor rotação é de 180º e existem eixos de simetria axial,
em duas direcções, estando todos os centros de rotação sobre eles, pelo que o
seu tipo é «pmm»;
no segundo caso, a menor rotação é de 60º e existem simetrias axiais, pelo que
corresponde ao tipo «p6m».
Por fim, o quinto passo, talvez mais adequado para os
alunos do Secundário, poderia ser: procurar informações sobre os painéis de
azulejo mogóis do século XV e sobre os painéis uzbeques de hoje – que outros
usos foram e são feitos de azulejos pentagonais?
Adoraria ser aluno num projecto destes!
Fonte (texto e imagem inicial): catálogo do Museu Berardo Estremoz (pp. 224 e 226), texto assinado por José Meco (pp. 219-744)
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