E se um painel de azulejos tiver duas autorias: o artista,
que cria um pequeno conjunto de módulos, e os aplicadores, que associam livremente
esses módulos na composição final?
Foi esta a escolha de Athos Bulcão (1918 – 2008), artista plástico
brasileiro. A sua trajectória artística não visou o público frequentador de museus e de galerias, mas o público em
geral, aquele que entra em contacto com sua obra quando se dirige para o
trabalho, ou para a escola, ou que simplesmente passeia pela cidade. E a cidade
que Athos Bulcão impregnou com a sua obra foi Brasília, onde muitas das paredes de cimento foram
transformadas em arte.
Três exemplos:
Mercado das Flores (1983):
Salão Verde do Congresso Nacional (1971):
Torre da Televisão (1966):
Nestes três exemplos há, respectivamente, dois, quatro e dois módulos:
Em qualquer dos casos, seria possível criar um painel com
um padrão geométrico. No entanto, a decisão de deixar o resultado final ao
gosto dos aplicadores mostrou que estes preferiram composições que não fossem padronizadas.
O que não é equivalente a uma composição aleatória, pois resulta das escolhas
estéticas dos aplicadores.
A diferença entre estas três escolhas está a seguir exemplificada com o caso da
Torre de Televisão de Brasília: à esquerda, a composição aleatória; no centro,
a composição intencional; e à direita, uma composição de padrão.
Para a composição aleatória foi considerado haver duas posições possíveis para o rectângulo e quatro posições possíveis para o triângulo. Seleccionando os primeiros dígitos do número PI, ao 2 e 4 fez-se corresponder o rectângulo horizontal e ao 6 e 8 o rectângulo vertical; e a 1, 3, 5 e 7 fez-se corresponder as quatro posições do triângulo; o 0 e o 9 foram desprezados. Foram usados os cem primeiros dígitos úteis, distribuídos, ordenadamente, pelas filas, da superior para a inferior e da esquerda para a direita.
Fonte (texto e imagens sobre Athos Bulcão): sítio da Fundação Athos Bulcão …
Sem comentários:
Enviar um comentário