A motivação para escrever neste blogue (que agora chega às 250 mensagens) talvez possa ser explicada assim:
Gostei muito de ser professor, vivendo-o intensamente no «presente» e projectando-o
constantemente no que gostaria de fazer no «futuro»;
Quando me reformei, em 2010, tinha a certeza do que conseguira fazer, mas
também do muito que me tinha sido negado prosseguir;
Uma das respostas que dei a esta constatação foi a escrita de um livro
(iniciei-o logo em 2010, terminei-o agora, em 2020), onde fiz um curto balanço
do que, com outros professores, conseguimos fazer e onde procurei perceber as
razões que levaram a que, a partir de certa altura, não pudéssemos fazer muitas
outras; olhei assim para o «passado», para identificar nele o que foi furtado ao
«futuro»;
Outra das respostas foi manter-me ligado ao instável «presente», juntando-me a professores
e educadores que não haviam desistido de decidir qual o seu contributo para a
educação; o blogue foi uma das minhas formas de participar nessa intervenção
comum (nele, imagino-me livre para ser o professor que desejo e sei ser, sem as
pressões formatadoras e deformadoras a que hoje os educadores estão a ser
sujeitos hoje).
Escreveu António Damásio que o significado único de cada ser humano resulta das suas “recordações do passado” e das “memórias” do “futuro” que, incessantemente, antecipa:
Se é assim, quando afirmarmos as nossas memórias não visamos disputar o «passado», mas sim o «futuro» em que o «presente» persistentemente se transforma.
Antecipando então um pouco do que escrevi no livro que está em vias de ser publicado:
“Este testemunho, tal como
qualquer outro, não é neutro. Tanto pelo que descreve como pelo que lhe
acrescenta em argumentos e interpretações. E ainda por dois desafios que lhe
estão permanentemente implícitos, dirigido a todos os leitores, mas
especialmente aos professores. O primeiro apela a que se exprimam; e, se tiverem
esse jeito, apela a que escrevam, sobre o que veem e sobre o que pensam. Os
nossos testemunhos ajudam a compreender as dificuldades que hoje enfrentamos e
as oportunidades de que dispomos, nomeadamente na educação. E ajudam-nos a
fundamentar a construção de comunidades de cidadãos e de comunidades de
profissionais.
O segundo desafio apela a que não se deixem fechar nas comunidades que ajudarem
a construir. Estamos cada vez mais dependentes uns dos outros, dos mais
próximos, dos mais longínquos. Pensem, portanto, a partir do vosso ponto de
vista; mas pensem também nos questionamentos que vos podem surgir vindos de
outros pontos de vista; e esbocem o que pode vir a ser um ponto de vista acima
dos vários pontos de vista. Se não o tentarmos, nunca seremos capazes de nos
entender com aqueles que não fazem parte das nossas comunidades de pertença.
Estes desafios exigem que alguns de nós invistam parte do seu tempo, antes que muitos
outros se possam também neles envolver. Mas desse esforço poderá resultar uma
grande ferramenta comum, que vá articulando as práticas e as teorias, à medida
que interagirmos uns com os outros e com o mundo.”
Fontes das citações: livro de Damásio (2017; p. 18) e livro ainda por publicar
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