domingo, 13 de dezembro de 2020

[0250] Memória: o «passado», o «presente» e o «futuro»

A motivação para escrever neste blogue (que agora chega às 250 mensagens) talvez possa ser explicada assim:

Gostei muito de ser professor, vivendo-o intensamente no «presente» e projectando-o constantemente no que gostaria de fazer no «futuro»;
Quando me reformei, em 2010, tinha a certeza do que conseguira fazer, mas também do muito que me tinha sido negado prosseguir;
Uma das respostas que dei a esta constatação foi a escrita de um livro (iniciei-o logo em 2010, terminei-o agora, em 2020), onde fiz um curto balanço do que, com outros professores, conseguimos fazer e onde procurei perceber as razões que levaram a que, a partir de certa altura, não pudéssemos fazer muitas outras; olhei assim para o «passado», para identificar nele o que foi furtado ao «futuro»;
Outra das respostas foi manter-me ligado ao instável «presente», juntando-me a professores e educadores que não haviam desistido de decidir qual o seu contributo para a educação; o blogue foi uma das minhas formas de participar nessa intervenção comum (nele, imagino-me livre para ser o professor que desejo e sei ser, sem as pressões formatadoras e deformadoras a que hoje os educadores estão a ser sujeitos hoje).

 

Escreveu António Damásio que o significado único de cada ser humano resulta das suas “recordações do passado e das memórias” do “futuro” que, incessantemente, antecipa:

Se é assim, quando afirmarmos as nossas memórias não visamos disputar o «passado», mas sim o «futuro» em que o «presente» persistentemente se transforma.


Antecipando então um pouco do que escrevi no livro que está em vias de ser publicado:

Este testemunho, tal como qualquer outro, não é neutro. Tanto pelo que descreve como pelo que lhe acrescenta em argumentos e interpretações. E ainda por dois desafios que lhe estão permanentemente implícitos, dirigido a todos os leitores, mas especialmente aos professores. O primeiro apela a que se exprimam; e, se tiverem esse jeito, apela a que escrevam, sobre o que veem e sobre o que pensam. Os nossos testemunhos ajudam a compreender as dificuldades que hoje enfrentamos e as oportunidades de que dispomos, nomeadamente na educação. E ajudam-nos a fundamentar a construção de comunidades de cidadãos e de comunidades de profissionais.
O segundo desafio apela a que não se deixem fechar nas comunidades que ajudarem a construir. Estamos cada vez mais dependentes uns dos outros, dos mais próximos, dos mais longínquos. Pensem, portanto, a partir do vosso ponto de vista; mas pensem também nos questionamentos que vos podem surgir vindos de outros pontos de vista; e esbocem o que pode vir a ser um ponto de vista acima dos vários pontos de vista. Se não o tentarmos, nunca seremos capazes de nos entender com aqueles que não fazem parte das nossas comunidades de pertença.
Estes desafios exigem que alguns de nós invistam parte do seu tempo, antes que muitos outros se possam também neles envolver. Mas desse esforço poderá resultar uma grande ferramenta comum, que vá articulando as práticas e as teorias, à medida que interagirmos uns com os outros e com o mundo.

 

Fontes das citações: livro de Damásio (2017; p. 18) e livro ainda por publicar

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