domingo, 27 de dezembro de 2020

[0252] A Música e a Cidade

O som que predomina nas cidades talvez seja uma mistura dos produzidos pelo trânsito e pelas vozes mais próximas. Podem juntar-se-lhes outros sons, como o de um prédio em obras, como o de um pregão. Se não for muito agressivo, o som que predomina nas cidades pode ser reconfortante, ao diz-nos que não estamos sozinhos.
Em momentos e em locais particulares, o som das cidades pode ser muito específico: insuportável (num engarrafamento), entusiasmante (num estádio), fervilhante (num mercado), …

 

E se grande parte de uma cidade tivesse como único som (ou pelo menos principal) a música?
Em Frankfurt am Main, na véspera do Natal, dez igrejas harmonizaram musicalmente os seus sinos, coordenaram digitalmente os seus movimentos e, pelo fim da tarde, proporcionam-nos um concerto.
Experimente (são 25 minutos e 33 segundos).


Clique em Das Große Stadtgeläute von Frankfurt am Main | Stadt Frankfurt am Main
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e desça pela página, até encontrar esta imagem (onde terá de clicar de novo):


Este ano, para não favorecer a aglomeração de pessoas, devido à pandemia, não houve concerto ao vivo. Mas o concerto foi disponibilizado pela internet.



Deve ser raro uma cidade dar de si uma tal imagem.
Mas não é difícil que uma pequena comunidade, como a de uma escola (que é uma cidade em miniatura), dispondo de um espaço próprio e da possibilidade de decidir muito do que nele faz e quando, o possa fazer.
Não querem experimentar?!

 

Fonte: sítio da Stadt Frankfurt am Main

domingo, 20 de dezembro de 2020

[0251] Os Pentaminós são mesmo um quebra-cabeças!

Um pentaminó é uma peça constituída por 5 quadrados iguais (daí o prefixo penta), ligados lado-com-lado.

Quem se lembrou de descrever os possíveis pentaminós, e de lhes dar este nome, foi o matemático americano Solomon W. Golomb, em 1953. Considerando que os podia usar de dois modos, ou frente, ou verso, ele concluiu que existem 12 pentaminós.
A cada um deles está associada uma letra:


Um modo simples de construir os 12 pentaminós: desenhá-los numa folha de cartolina, ou até de cartão; e recortar cada um deles!

 

O desafio mais habitual consiste em juntar os 12 pentaminós de modo a formar uma figura dada.
A seguir estão figuradas seis dessas figuras, todas rectângulos, uns sem espaços livres no seu interior, outros com alguns furos (é preciso não esquecer que a área total dos 12 pentaminós é sempre de 60 unidades, por se tratar de 12 peças, cada qual com 5 quadrados):

O número de soluções foi calculado recorrendo a computador.

 

Para os mais criativos (e pacientes?) também é possível criar figuras novas, usando sempre as 12 peças, e dando-lhes um nome apropriado.
Alguns exemplos de figuras já criadas, a que ainda não foram dados nomes:



Na página «Documentos» deste blogue é possível aceder, via «Quebra-cabeças», a um ficheiro com estes e outros desafios

domingo, 13 de dezembro de 2020

[0250] Memória: o «passado», o «presente» e o «futuro»

A motivação para escrever neste blogue (que agora chega às 250 mensagens) talvez possa ser explicada assim:

Gostei muito de ser professor, vivendo-o intensamente no «presente» e projectando-o constantemente no que gostaria de fazer no «futuro»;
Quando me reformei, em 2010, tinha a certeza do que conseguira fazer, mas também do muito que me tinha sido negado prosseguir;
Uma das respostas que dei a esta constatação foi a escrita de um livro (iniciei-o logo em 2010, terminei-o agora, em 2020), onde fiz um curto balanço do que, com outros professores, conseguimos fazer e onde procurei perceber as razões que levaram a que, a partir de certa altura, não pudéssemos fazer muitas outras; olhei assim para o «passado», para identificar nele o que foi furtado ao «futuro»;
Outra das respostas foi manter-me ligado ao instável «presente», juntando-me a professores e educadores que não haviam desistido de decidir qual o seu contributo para a educação; o blogue foi uma das minhas formas de participar nessa intervenção comum (nele, imagino-me livre para ser o professor que desejo e sei ser, sem as pressões formatadoras e deformadoras a que hoje os educadores estão a ser sujeitos hoje).

 

Escreveu António Damásio que o significado único de cada ser humano resulta das suas “recordações do passado e das memórias” do “futuro” que, incessantemente, antecipa:

Se é assim, quando afirmarmos as nossas memórias não visamos disputar o «passado», mas sim o «futuro» em que o «presente» persistentemente se transforma.


Antecipando então um pouco do que escrevi no livro que está em vias de ser publicado:

Este testemunho, tal como qualquer outro, não é neutro. Tanto pelo que descreve como pelo que lhe acrescenta em argumentos e interpretações. E ainda por dois desafios que lhe estão permanentemente implícitos, dirigido a todos os leitores, mas especialmente aos professores. O primeiro apela a que se exprimam; e, se tiverem esse jeito, apela a que escrevam, sobre o que veem e sobre o que pensam. Os nossos testemunhos ajudam a compreender as dificuldades que hoje enfrentamos e as oportunidades de que dispomos, nomeadamente na educação. E ajudam-nos a fundamentar a construção de comunidades de cidadãos e de comunidades de profissionais.
O segundo desafio apela a que não se deixem fechar nas comunidades que ajudarem a construir. Estamos cada vez mais dependentes uns dos outros, dos mais próximos, dos mais longínquos. Pensem, portanto, a partir do vosso ponto de vista; mas pensem também nos questionamentos que vos podem surgir vindos de outros pontos de vista; e esbocem o que pode vir a ser um ponto de vista acima dos vários pontos de vista. Se não o tentarmos, nunca seremos capazes de nos entender com aqueles que não fazem parte das nossas comunidades de pertença.
Estes desafios exigem que alguns de nós invistam parte do seu tempo, antes que muitos outros se possam também neles envolver. Mas desse esforço poderá resultar uma grande ferramenta comum, que vá articulando as práticas e as teorias, à medida que interagirmos uns com os outros e com o mundo.

 

Fontes das citações: livro de Damásio (2017; p. 18) e livro ainda por publicar

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

[0249] Ginjinhas para todos!

Tenho uma certa inveja dos professores do 1º Ciclo: terem uma turma em exclusivo, conhecerem os seus alunos como nunca mais nenhum professor os irá conhecer e … ouvir as mais interessantes perguntas que um educador pode ouvir …

 

Talvez por isso me imaginei, em Novembro, professor do 1º Ciclo.
A malta da minha turma entra na sala e logo uma das miúdas e um dos miúdos correm para me dizer:
Professor, lá na nossa rua os pássaros andam malucos!
Já vamos falar nisso …, acalmei-os eu.

 

Depois de toda a turma estar arrumada, e algumas rotinas despachadas, regressei ao assunto:
Então expliquem o que se passa na vossa rua …
Há muitos, muitos pássaros pretos nas árvores! fazem muito barulho, saltam de um lado para o outro,
disse o rapaz.
O meu pai disse que pareciam Melros, mas minha avó disse que não eram Melros,
disse a menina.

 

Falámos um pouco sobre isso com a turma e combinámos que precisávamos de mais informações: como eram os pássaros (seriam possível tirarem umas fotografias?), que tamanho tinham (eram todos como os Melros?), o que faziam (andavam pelas árvores ou discutiam uns com os outros?), em que altura apareciam eles (de manhã, à tarde, em qualquer altura do dia?).

 

Dois dias depois, assim o imaginei, eis as fotografias que eles me trouxeram:














Depois do primeiro passo (o espanto com que a notícia havia sido trazida dois dias antes) tínhamos o segundo passo: observações mais detalhadas (neste caso, fotográficas). Podíamos então dar o terceiro passo: dispor de mais informações para identificar as aves e … a árvore, pois parecia que o interesse da passarada era, aquelas bagas visíveis nos seus bicos (fotografias 1 e 4).
Enviei um grupo à Biblioteca para trazer o que lá houvesse que nos pudesse ajudar a identificar aves e árvores. E dei a chave do nosso armário a outro grupo, pois também lá havia qualquer coisa que nos podia ser útil. E os restantes foram para a internet, onde já tínhamos alguns sítios preparados para estudar a fauna e a flora.

 

Os miúdos estiveram uns três dias a pesquisar, a debater comigo e a escrever o que descobriram - e as dúvidas com que ficaram.
Não ficámos com a certeza acerca de quem é quem nas fotografias: na segunda trata-se de um grupo de Mainatos (têm um alto na cabeça, andam em bandos), uma espécie exótica, originária da Índia; na terceira trata-se de um Melro (o bico amarelo, as penas muito escuras); nas duas outras, precisamente aquelas em que as aves se preparam para engolir as bagas, tanto se pode tratar de Estorninhos Pretos ou de Melros (o Melro tem cauda mais comprida; o Estorninho desloca-se em bandos).

 

Ah! e as bagas?
Tratam-se dos frutos do Lodão-bastardo, uma das árvores mais usadas para dar vida às nossas ruas. Formam-se na Primavera, podendo atingir um centímetro de diâmetro. Permanecem nas árvores durante o Verão, com a sua cor verde. E no Outono começam a amadurecer, primeiro amarelas, depois castanhas, estando nos finais de Novembro quase vermelhas. Umas caem, outras são comidas pelos Melros e debicadas pelas Pardais, até que os bandos de Mainatos e de Estorninhos a descobrem e assaltam e várias vagas diárias … até que a chuva e o vento as fazem cair todas.
São chamadas Ginginhas-do-rei, nome por vezes também atribuído à sua árvore

 

Que haja ginjinhas para todos!

 

Fotografias (tiradas em Novembro e Dezembro de 2020): Eva Maria Blum (a primeira) e Pedro Esteves (as outras três)

Fonte: livro de Svensson (2012; pp. 296-297, 370-371 e 425) e Bingre & outros (2007; pp. 300)