O 2º Encontro sobre Património, que o Centro de Arqueologia de Almada, a Associação para a Educação e a Defesa do Património e o Instituto Piaget organizaram em 2014, focado no tema Educação Patrimonial e Identidade, proporcionou um conjunto muito interessante e variado de intervenções.
As seguintes reflexões inspiraram-se nas notas que tomei:
Património:
“O Património somos todos nós”; mas também o
é aquilo que fazemos, como a Ciência e a
Música. E ainda o é a Natureza, que nos
transcende; o seu “valor intrínseco” está, portanto, infinitamente para além do
“valor” dos “serviços” que nos presta.
Podemos então dizer que Património é aquilo
que recebemos, que aceitamos ou negamos, que conservamos ou enriquecemos.
Educação Patrimonial:
Face ao Património, cada um tem a possibilidade de colocar as suas “perguntas” e de experimentar as suas “respostas”. É esse o primeiro passo da Educação: desafiar-nos
a todos, novos ou mais velhos, a conhecer e a interpelar o Património.
Mas “a Educação
acontece” onde a “relação entre as pessoas”
cria um espaço de “afectos”. Educar é, então, um “processo
endógeno” de co-responsabilização pelo Património (etimologicamente,
«responsabilidade» significa dar “respostas”; agora significa também a possibilidade
de colocar “perguntas”).
Consequentemente, educar não se distingue de educar patrimonialmente: prepararmo-nos,
todos e cada um, para a existência de tudo.
Tensões entre Educação e Património
Escreveu Hannah Arendt (1906 - 1975): os adultos querem, por um
lado, que a criança seja “protegida e cuidada para
evitar que o mundo a possa destruir”; e, por outro, que o mundo tenha a
“protecção que o impeça de ser devastado e
destruído pela vaga de recém-chegados”.
Escreveu Karl Popper (1902 - 1994):“a nossa pedagogia consiste em sobrecarregar as crianças
com respostas, sem que elas tenham colocado questões, e às perguntas que fazem
não se presta atenção”. “Esta é a pedagogia
habitual”, acrescentou ele: “respostas sem perguntas e perguntas sem respostas.”
O ponto de vista de Arendt aproxima-a da noção conservadora de
«patrimonialização» (é um movimento dirigido á protecção). O ponto de vista de Popper aproxima-o da noção criativa
de «património» (um processo de produção,
mesmo se interpessoalmente desencontrado).
Considerados em conjunto, Arendt e Popper chamam a atenção para: (1) as
ligações entre pessoas e entre patrimónios; (2) a ambiguidade da relação das
pessoas com os patrimónios (que pode ser de produção
/ destruição); e (3) a tensão existente entre quem vem do passado e quem surge no presente. As escolas não escapam à
tensão entre estes dois pontos de vista, podendo ou não saber conciliar as
vantagens que ambos possuem.
A escola («todas as escolas» / «qualquer escola») pode então ser encarada como o espaço onde uma geração se encontra e parte à descoberta do que lhe pré-existe, e ao qual regressa para interiorizar o que descobriu e imaginar o que mais tarde lhe fará.
Fontes: livros de Arendt (2000; p. 38) e de Popper, em debate com Lorenz (1990; p. 49)
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