A observação de um só objecto pode trazer luz sobre toda uma época. Foi essa a ideia subjacente a oito mensagens iniciadas e interrompidas há três anos, baseadas no livro Uma História do Mundo em 100 Objetos (do British Museum), de Neil MacGregor:
Uma escultura conhecida por «Renas nadadoras», com cerca de
13 mil anos, sugere que recuemos até ao tempo dos caçadores-recolectores
europeus (mensagem «0036»).
Uma «Estatueta
maia do deus do Milho», vinda de Cópan, na América Central, recorda-nos,
apesar de ter sido esculpida no início do século VIII, um deus que era os Maias
adoravam desde há milénios, como consequência da enorme transformação que a
agricultura começou a introduzir, um pouco por todo o mundo, por volta de 9 mil
anos antes de Cristo (mensagem «0042»).
Um outro aspecto desta transformação é-nos lembrado por uma «Tabuinha antiga
escrita» há cerca de 5 mil anos (com sinais cuneiformes), encontrada
no Sul do actual Iraque: nela estão registados pagamentos por serviços
relacionados com … a cerveja (mensagem «0045»).
O «Papiro
matemático de Rhind» é o objecto seguinte; escrito por volta de 1550
antes de Cristo, foi encontrado nas proximidades de Luxor, no Egipto, e contém
vários problemas de Matemática (mensagem «0046»)
Os «Relevos
de Lachish», em pedra, encontrados em Nínive, no Norte do Iraque, datam
de cerca de 700 anos antes de Cristo e recordam-nos a violência guerreira exercida
pelos impérios de então (mensagem «0048»)
O «Sino
chinês de bronze», feito no tempo de Confúcio, mostra-nos como no
século V antes de Cristo também se fazia filosofia e música (mensagem «0049»)
A «Pedro de
Roseta», gravada no início do século II antes de Cristo, no Egipto,
evoca-nos três histórias: a da dinastia dos Ptolomeus (terminada com Cleópatra);
a da competição entre franceses e ingleses no início do século XIX; e a da
decifração da escrita hieroglífica (mensagem «0052»).
Por fim, o «Pimenteiro
de Hoxne», encontrado no Sul de Inglaterra, conta-nos histórias
sobre as viagens da pimenta e sobre as mudanças políticas traumáticas no século
IV da nossa era (mensagem «0098»).
A escolha de objectos feita por Neil MacGregor foi estruturada
em vinte épocas, sendo cada uma representada por cinco objectos (daí 20 x 5 =
100 objectos).
Depois de apresentar as oito primeiras épocas, MacGregor explicou assim a
seguinte: “Lutando para abarcar o infinito, um
pequeno número de religiões moldaram o mundo nos últimos dois mil anos.”
E os cinco objectos que selecionou para a representar estão relacionados com
religiões surgidas entre 100 e 600 d.C.: o budismo, o cristianismo, o hinduísmo,
o zoroastrismo e o islamismo.
Eu escolhi, como objecto, o «Prato de Shapur II»:
Trata-se de um prato de prata onde se vê o rei Shapur II a
caçar.
Shapur foi um dos reis da dinastia Sassânida, no Médio Oriente, que reinou longamente,
entre 309 e 379. No seu tempo os reis não dispunham apenas de poderes seculares,
pois também eram agentes de deus, neste caso do zoroastrismo, a religião
estatal.
Não é certo que tenha havido um Zoroastro. Mas, se existiu, terá vivido por volta de 1000 antes de Cristo nas estepes da Ásia Central, tendo sido o primeiro profeta a afirmar que o universo é um campo de batalha entre as forças do bem e as do mal e a ensinar que o tempo não é um ciclo interminável, pois terá um fim, ideias que também inspiraram outras religiões, como o cristianismo e o islamismo.
Fonte: livro de MacGregor (2014; pp. 257 e 269-273)
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