segunda-feira, 24 de agosto de 2020

[0235] A Tapeçaria de Bayeux e o cometa Halley

Ao descrever o reinado dos primeiros doze césares (período da história de Roma entre meados do século I a. C e o final do século I d. C.), Suetónio (69 – cerca de 141 d. C.) refere, em pelo menos duas ocasiões, que o surgimento de uma “estrela cabeluda” nos céus foi interpretado pelos romanos como um alerta para a eminente ocorrência de importantes acontecimentos.


As estrelas cabeludas, hoje conhecidas por cometas, visitam-nos regularmente, sendo compreensível que a sua passagem aconteça na proximidade temporal de algum acontecimento mais ou menos saliente, algures, à superfície deste vasto e agitado planeta.

Entre os casos mais interessantemente documentados está o da aparição do cometa Halley em 1066 d. C.. Nos anos anteriores a Inglaterra começara a sentir o problema da sucessão dinástica, tendo o seu rei, Eduardo, sem descendentes, decidido enviar ao rei Guilherme da Normandia a indicação de que deveria ser seu sucessor (havia intrincadas relações familiares entre estas duas dinastias). No entanto Harald, um nobre inglês, opôs-se a dada altura a esta solução e quando Eduardo morreu, em Janeiro de 1066, proclamou-se rei de Inglaterra, opondo-se assim a Guilherme. Mas o aparecimento do cometa, na Primavera, foi considerado como um mau augúrio pelos seus apoiantes.

Esta história foi registada na chamada Tapeçaria de Bayeux, e termina com a invasão de Inglaterra por Guilherme e a derrota de Harald na batalha de Hastings:

Esta tapeçaria, originalmente com quase 70 metros de comprimento por meio metro de altura, pode ser olhada por nós como se se tratasse de uma banda desenhada, tendo sido realizada pouco depois dos acontecimentos que relata, talvez ao longo de dez anos, encontrando-se em Bayeux, na Normandia.


Há relatos históricos que podem estar associados a outras passagens do cometa Halley pelos nossos céus antes de 1066. Mais seguros são os registos referentes às passagens posteriores: em 1145, 1222, 1301, 1378, 1456, 1531, 1607, 1682, 1759, 1835, 1910 e 1986.

O inglês Edmundo Halley (1656 – 1742), depois de estudar os registos das passagens de 1531, 1607 e 1682, concluiu tratar-se do mesmo cometa, prevendo o ano em que voltaria a cruzar os céus da Terra.

 

Uma modelação da última passagem, em 1986, pode ser vista em:

Ver: animação do Trajecto do cometa Halley em 1986


A próxima passagem deste cometa está prevista para … 2061.

 

Fontes: livro de Suetónio (2007; pp. 332 e 417); catálogo da exposição «Die letzten Wikinger / Les derniers Vikings», do Archäologisches Museum Frankfurt (2009), em particular os artigos de Bertelsen (pp. 16-26) e de Byørn (pp. 38-47); Wikipédia (versão inglesa); Wikipédia (para o cometa e para Edmund Halley)

As três primeiras imagens são da Tapeçaria de Bayeux

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