A Bela e o Monstro é um conto de fadas francês
escrito por Gabrielle-Suzanne Barbot, em 1740, e adaptado alguns anos mais
tarde (1756) por Jeanne-Marie Le Prince de Beaumont. Abordando o encontro entre
seres radicalmente diferentes, e tendo por desfecho o seu inesperado
entendimento, este conto foi por diversas vezes retomado no século XX pelo
cinema e pela televisão, conforme o momento vivido e o público esperado:
Ilustração de Anne Anderson |
Não sei qual virá a ser o desfecho do desencontro / encontro
entre o Analógico e o Digital (dois nomes masculinos, contrariamente a Belle e Bête, dois nomes femininos). Mas pareceu-me muito interessante o
desafio que situações deste tipo colocam aos Professores e, em sentido mais
lato, a qualquer Cidadão, dada a omnipresença do desencontro / encontro entre
culturas hoje tão premente nas escolas como nas nossas sociedades.
O exemplo que me levou a esta argumentação é o da
identificação de plantas. Já existem diversas aplicações para SmartPhones que, perante uma planta que
desconhecemos, nos dão informações sobre ela. Uma dessas aplicações (https://identify.plantnet.org), ligada
ao projecto internacional PlantNet, também possui uma versão para usar
num computador onde estejam guardadas fotografias de plantas. Experimentei com esta
fotografia, tirada em 2008, onde se vê uma rude mas bela planta que se estira
sobre os xistos que ladeiam o rio Reno, na região do Rheingau:
A aplicação apresentou-me doze hipóteses de identificação
(um primeiro bom sinal), sendo aquela que considerou mais provável (com uma
certeza de 3,05 em 5, ou seja, um pouco acima dos 60 %) a espécie Sedum cepaea, L.,
da família das Crassulaceae
(dois terços das doze hipóteses apresentadas pertencem, aliás, a esta família).
Ao fim de doze anos guardada numa pasta designada «Para classificar», consegui
delimitar a espécie a que esta planta pertence. Nada mau.
E quanto aos antigos instrumentos de identificação, baseados
na observação directa? Genericamente, eles são chamados chaves dicotómicas, designação que resulta das sucessivas perguntas
que colocamos àquilo que é observado e que vão dividindo por dois as hipóteses
de identificação. Para classificar uma planta podem ser escolhidas como
primeiras perguntas as que se encontram nos seguintes rectângulos (com fundo
verde), de que resultarão os primeiros grandes grupos identificados (escritos a
verde), seguindo-se-lhes novas perguntas que precisarão a identificação até se
chegar à espécie:
Uma grande vantagem deste procedimento, analógico, comparativamente ao da aplicação digital, é que somos nós quem observa a planta, podendo assim aprender muito sobre ela. No entanto, ele tem a desvantagem de a maioria das pessoas não estar preparada para responder a muitas das perguntas que a chave dicotómica lhe faz.
O procedimento digital tem vantagens onde o anterior tem
desvantagens e tem vantagens onde o anterior tem vantagens, pelo que a
conclusão que parece óbvia é: aprendemos a conjugar os métodos analógicos com
os digitais!
Talvez possamos extrapolar, a partir deste simples exemplo
em que apenas queremos conhecer melhor a Natureza, que nas questões que
envolvem os desencontros / encontros culturais o melhor é admitir haver sempre
algo a aprender com aqueles que são diferentes de nós – é admitir que, no fim,
acabaremos por descobrir o muito que há em comum entre todos.
Fonte:
Wikipédia (informação sobre a origem do conto e ilustração de Anne Anderson)
Fotografia:
Pedro Esteves
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