Nenhuma estimativa acerca da proporção entre o peso total das
plantas e o peso total dos animais na Terra, actualmente, atribui menos de 80 %
às plantas.
O último antepassado comum a plantas e a animais terá
existido há cerca de 600 milhões de anos, numa altura em que a vida ainda só
existia nas águas. Ao acontecer a separação, as plantas tenderam a fixar-se e a
utilizar a energia solar, enquanto os animais se preparam para o movimento, em
busca de outras energias. Isso implicou profundas diferenças nos corpos das
espécies destes dois reinos da vida: segundo Stefano Mancuso, as plantas
descentralizaram as suas funções por todo o corpo (a produção, a respiração, os
sentidos, a reprodução, …) e os animais concentraram cada função num órgão específico.
“Qualquer que seja o problema,
os animais resolvem-no deslocando-se: se falta alimento, vai-se para onde ele
exista; se está demasiado calor, demasiado frio, se o clima é demasiado húmido
ou demasiado seco, migra-se para onde há condições mais propícias; se os competidores
aumentam de número e se se tornam cada vez mais agressivos, muda-se para novos
territórios; se não se encontram parceiros para a reprodução, vai-se à procura
deles. (…). Os animais, portanto, não resolvem os problema, mas evitam-nos
eficientemente (…).”
As plantas, pelo contrário, não podem “fugir ao ambiente, apenas sobrevivem porque conseguem
perceber sempre e com grande certeza uma multiplicidade de parâmetros químicos
e físicos, tais como a luz, a gravidade, os elementos minerais à sua disposição,
humidade, temperatura, estímulos mecânicos, estrutura do solo, composição dos
gases da atmosfera, etc.” Até se apercebem de “sinais
bióticos (ou seja, resultantes de
outros seres vivos), tais como a proximidade ou distância de outras plantas, a
identidade destas e a presença de predadores, simbiontes ou patogénicos (…).”
As raízes são o seu órgão mais importante. Elas exploram os
solos onde se encontram, captando gradientes muito débeis de oxigénio, água,
temperatura, substâncias nutrientes. Já foram contados, num único centímetro
cúbico de solo florestal, mais de mil ápices radiculares; se a árvore for adulta,
poderá dispor de milhares de milhões.
Fonte: livro
de Mancuso (2019; pp. 101-108)
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