Recebi em Setembro, através de uma rede social, o seguinte
desafio:
em cada um de sete dias seguidos divulgar a
capa de um livro de cuja leitura tivesse gostado, sem qualquer outra explicação
além da imagem …
Nas mensagens «0144» e «0145» dei a conhecer os quatro
primeiros livros que escolhi e um pouco das razões pelas quais o fiz. Desta vez
abordo os três últimos. Nenhum tem a ver com a Matemática: ser professor, e
ser cidadão, exigem uma atenção muito para além da especialização; e para um
professor convicto dos currículos abertos,
essa exigência é ainda maior.
Stephen Jay Gould (1941-2002) descreve como os
fósseis preservados desde há 530 milhões de anos nos xistos de Burguess, no
Canadá, preservaram uma extraordinária variedade de seres que viviam nos mares
de então, muito mais diversos do que os seres que vivem nos actuais mares.
A partir do estudo deste caso, concluiu que a contingência também tem um papel na evolução, pelo que,
extrapolando para nós próprios, afirmou: “O Homo sapiens é uma entidade, não uma
tendência.” “Somos fruto da história e temos
de estabelecer os nossos próprios caminhos no mais diverso e interessante dos
universos concebíveis – um universo que é indiferente ao nosso sofrimento, mas
nos oferece a maior das liberdades para vingarmos, ou para falharmos, no
percurso que escolhemos.”
Clifford Geertz (1926-2006) explica, na introdução,
aquilo a que se propôs ao reunir alguns dos seus ensaios neste livro:
“Ver-nos
como os outros nos vêem pode ser bastante esclarecedor. Acreditar que outros
possuem a mesma natureza que possuímos é o mínimo que se espera de uma pessoa
decente. A largueza de espírito, no entanto, sem a qual a objetividade é nada
mais que autocongratulação, e a tolerância apenas hipocrisia, surge através de
uma conquista muito mais difícil: a de ver-nos, entre outros, como apenas mais
um exemplo da forma que a vida humana adotou em um determinado lugar, um caso
entre casos, um mundo entre mundos. Se a antropologia interpretativa tem alguma
função geral no mundo, é a de constantemente re-ensinar esta verdade fugaz.”
Marguerite Yourcenar (1903-1987) iniciou e abandonou
por diversas vezes, durante décadas, o projecto de escrever sobre a vida do
Imperador Adriano (76 – 138 d. C.). A explicação para as dificuldades
encontradas e para a persistência com que não abandonou esse projecto está, de
algum modo, resumida na seguinte anotação:
“Encontrei de novo num volume da correspondência de
Flaubert, muito lido e muito sublinhado por mim pouco mais ou menos em 1927, a
frase inesquecível «Não existindo já os deuses e não existindo ainda Cristo,
houve, de Cícero a Marco Aurélio, um momento único em que só existiu o homem». Uma
grande parte da minha vida ia passar-se a tentar definir, depois a escrever,
esse homem sozinho e aliás ligado a tudo.”
Fontes: Gould
(1995; pp. 331 e 334); Geertz (1998; p. 30); Yourcenar (1986; p. 249)
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