quarta-feira, 11 de abril de 2018

[0116] Primeiro esboço de síntese sobre o que são os Currículos Abertos


Os currículos abertos apoiam-se nos contributos de todos

As perguntas de cada um são o seu primeiro contributo para a aprendizagem:

Queixou-se Karl Popper (filósofo da ciência; 1902-1994): “(…) a nossa pedagogia consiste em sobrecarregar as crianças com respostas, sem que elas tenham colocado questões, e às perguntas que fazem não se presta atenção”. “Esta é a pedagogia habitual: respostas sem perguntas e perguntas sem respostas.” [mensagem «0077»]

Os saberes dos colectivos são as principais reservas para a aprendizagem:

Afirmou Jerome Bruner (psicólogo educacional e pedagogo; 1915-2016): “Há coisas que cada indivíduo sabe (mais do que ele próprio julga); mais ainda conhece o grupo ou é passível de ser descoberto por meio da discussão em grupo; e muito mais ainda se encontra armazenado algures – na «cultura», isto é, nas cabeças das pessoas mais sabedoras, nos directórios, nos livros, nos mapas, e por aí adiante.[mensagem «0006»]

E dois fundadores da Etnomatemática, Ubiratan d`Ambrósio (1932) e Paulus Gerdes (1952-2014), mostraram como a ela é uma das vias para revelar saberes culturais.
O primeiro evidenciou os conflitos existentes entre as aprendizagens realizadas fora e dentro da escola: a “aptidão numérica «erudita» elimina a assim chamada aptidão numérica «espontânea». (...). Há uma crescente perda de utilidade para o modo tradicional de fazer aritmética (...). Uma vez indo à escola, a tendência é perder essas habilidades, e não ser capaz de substituí-las pela forma «erudita».” [mensagem «0101»]


E o segundo definiu assim a Etnomatemática: “é o campo que estuda ideias matemáticas nos seus contextos histórico-culturais”; “Cada povo – cada cultura e sub cultura – desenvolve a sua própria matemática, de certa maneira específica.” [mensagem «0010»]

Os currículos abertos acompanham a vida de cada um

A aprendizagem começa antes de se entrar na escola:

Disse João dos Santos (psicólogo educacional; 1913-1987): “o drama é que não há continuidade entre o que se aprende livremente antes de se entrar para a escola e aquilo que se aprende na escola”; antes de se entrar para a escola “aprende-se a viver e a conviver e num plano de relação verbal”, enquanto “o que se ensina na escola, é apenas a linguagem escrita, só tem que ver com a linguagem escrita, que é vista pela escola como se tudo o resto não tivesse importância nenhuma, como se o falar, o dialogar, o brincar não tivesse importância nenhuma”.
É que o importante na escola, para começar, é que o adulto se aperceba de que a criança já sabe imensas coisas. E a maior parte das vezes a escola e os professores ignoram que a criança já tem um saber, e que é um saber extraordinariamente importante, e partem do princípio de que o que elas sabem não tem nenhum valor, o que é perfeitamente errado e prejudicial.” No fim de contas, a escola pretende que “o que não é mensurável, quer dizer, o que vai até ao infinito, ao céu e às estrelas”, seja reduzido “a uma escala do mensurável”, pelo que “a criança que ainda está numa fase de instabilidade, que anda a percorrer o seu universo e a alargá-lo para o compreender”, vê-se reduzida “às dimensões de uma mesa, de um papel”. É por isso que “todas as dificuldades escolares têm que ver com um estado de tristeza da criança.” [mensagem «0112»]

Os currículos abertos apoiam-se na diversidade dos saberes

Os «saberes» são muito mais do que «conhecimentos»:

Boaventura de Sousa Santos (sociólogo) lembrou que a riqueza e a complexidade do paradigma da modernidade tem-se mostrado “tão susceptível de variações profundas como de desenvolvimentos contraditórios”; e que ela assenta em dois pilares, o da “regulação” (princípios do Estado, do mercado e da comunidade) e o da “emancipação” (racionalidades “estético-expressiva das artes e da literatura”, “cognitivo-instrumental da ciência e da técnica” e “moral-prática da ética e do direito”). “Desde o início que se previra a possibilidade de virem a surgir excessos e défices, mas tanto uns como outros foram concebidos de forma reconstrutiva (...). Essa gestão reconstrutiva dos excessos e dos défices foi progressivamente confiada à ciência e, de forma subordinada, embora também determinante, ao direito. Promovida pela rápida conversão da ciência em força produtiva, os critérios científicos de eficiência e eficácia logo se tornaram hegemónicos, ao ponto de colonizarem gradualmente os critérios racionais das outras lógicas emancipatórias.” [mensagem «0057»]

O mundo que nos rodeia proporciona pontos de partida e de chegada para as aprendizagens:

Exemplos de temas já abordados neste blogue:

Azulejos de padrão (ou não) (Arte; História; Matemática; Técnica): [mensagens «0011», «0024», «0029», «0031», «0035», «0053» e «0108»]; sobre o Azulejo de Padrão escreveu Eduardo Néry: “No azulejo, o conceito de padrão encontra-se intimamente ligado ao da repetição de um motivo gráfico ou pictórico, organizado segundo eixos de simetria ou de outros esquemas estruturantes, quase sempre de raiz geométrica, mesmo quando os motivos ornamentais se inspiram na natureza.
[mensagem «0011»]

Cinema (Filosofia; História; Matemática): [mensagens «0027», «0040» e «0058»]; …

Desporto (Corpo; Matemática): [mensagens «0068» e «0102»]; …

Jogo de Reflexão (História; Matemática): [mensagens «0004», «0021», «0037», «0055», «0067», «0079» e «0081»]; …

Livro (Ciência; Corpo; Filosofia; História): [mensagens «0017», «0036», «0076» e «0083»]; …

Magias com Matemática (Culturas; Matemática): [mensagens «0005», «0008», «0018», «0019», «0026», «0033», «0039», «0043», «0047», «0051», «0062», «0064», «0086», «0099» e «0103»]; …

Museu (Cultura; História; Matemática): [mensagens «0016», «0038», «0046» e «0052»]; …

Natureza (Ciências da Natureza; História; Filosofia): [mensagens «0025», «0028», «0041», «0069», «0088», «0089», «0106» e «0110»]; …

Padrões geométricos (Arte; Culturas; História; Matemática): [mensagens «0061», «0070», «0072», «0073», «0075» e «0096»]; …

Quebra-cabeças (Culturas; Matemática): [mensagens «0013, «0014», «0022», «0044», «0050», «0067» e «0082»]; …

Quando se estabelecem pontes entre os «conhecimentos» geram-se «saberes»:

Exemplo: o Earth Science Curriculum Project, cujas primeiras ideias foram testadas ao longo de dois anos lectivos (1964-66) por um vasto grupo de professores norte-americanos nas suas escolas. Este projecto pretendia que as aprendizagens no Ensino Básico se baseassem na história integrada do planeta Terra, em vez de serem precocemente sujeitas às habituais subdivisões em Astronomia, Biologia, Ecologia, Física, Geografia, Geologia, Meteorologia, Paleontologia, Química – e em Matemática [mensagem «0001»]



Outros exemplos: [mensagem «0092»]

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