Os currículos
abertos apoiam-se nos contributos de todos
As perguntas
de cada um são o seu primeiro contributo para a aprendizagem:
Queixou-se Karl Popper (filósofo da ciência; 1902-1994): “(…) a nossa pedagogia consiste em sobrecarregar as
crianças com respostas, sem que elas tenham colocado questões, e às perguntas
que fazem não se presta atenção”. “Esta
é a pedagogia habitual: respostas sem
perguntas e perguntas sem respostas.” [mensagem
«0077»]
Os saberes dos
colectivos são as principais reservas para a aprendizagem:
Afirmou Jerome
Bruner (psicólogo educacional e
pedagogo; 1915-2016): “Há coisas que cada indivíduo sabe (mais do que ele próprio julga);
mais ainda conhece o grupo ou é passível de ser descoberto por meio da
discussão em grupo; e muito mais ainda se encontra armazenado algures – na
«cultura», isto é, nas cabeças das pessoas mais sabedoras, nos directórios, nos
livros, nos mapas, e por aí adiante.” [mensagem
«0006»]
E dois fundadores da Etnomatemática,
Ubiratan
d`Ambrósio (1932) e Paulus Gerdes (1952-2014), mostraram como a ela é uma das vias
para revelar saberes culturais.
O primeiro evidenciou os conflitos existentes entre as
aprendizagens realizadas fora e dentro da escola: a “aptidão
numérica «erudita» elimina a assim chamada aptidão numérica «espontânea».
(...). Há uma crescente perda de utilidade para o modo tradicional de fazer
aritmética (...). Uma vez indo à escola, a tendência é perder essas
habilidades, e não ser capaz de substituí-las pela forma «erudita».” [mensagem
«0101»]
E o segundo definiu assim a Etnomatemática: “é o campo que estuda ideias matemáticas nos seus
contextos histórico-culturais”; “Cada povo –
cada cultura e sub cultura – desenvolve a sua própria matemática, de certa
maneira específica.” [mensagem «0010»]
Os currículos
abertos acompanham a vida de cada um
A aprendizagem
começa antes de se entrar na escola:
Disse João dos Santos (psicólogo educacional; 1913-1987): “o drama é que não há
continuidade entre o que se aprende livremente antes de se entrar para a escola
e aquilo que se aprende na escola”; antes de se entrar para a escola “aprende-se a viver e a conviver e num plano de relação
verbal”, enquanto “o que se ensina na
escola, é apenas a linguagem escrita, só tem que ver com a linguagem escrita,
que é vista pela escola como se tudo o resto não tivesse importância nenhuma,
como se o falar, o dialogar, o brincar não tivesse importância nenhuma”.
“É que o importante na escola,
para começar, é que o adulto se aperceba de que a criança já sabe imensas
coisas. E a maior parte das vezes a escola e os professores ignoram que a
criança já tem um saber, e que é um saber extraordinariamente importante, e
partem do princípio de que o que elas sabem não tem nenhum valor, o que é
perfeitamente errado e prejudicial.” No fim de contas, a escola pretende
que “o que não é mensurável, quer dizer, o que vai
até ao infinito, ao céu e às estrelas”, seja reduzido “a uma escala do mensurável”, pelo que “a
criança que ainda está numa fase de instabilidade, que anda a percorrer o seu
universo e a alargá-lo para o compreender”, vê-se reduzida “às dimensões de uma mesa, de um papel”. É
por isso que “todas as dificuldades escolares têm
que ver com um estado de tristeza da criança.” [mensagem «0112»]
Os currículos
abertos apoiam-se na diversidade dos saberes
Os «saberes»
são muito mais do que «conhecimentos»:
Boaventura de Sousa Santos (sociólogo) lembrou
que a riqueza e a complexidade do paradigma da modernidade tem-se mostrado “tão
susceptível de variações profundas como de desenvolvimentos contraditórios”; e
que ela assenta em dois pilares, o da “regulação”
(princípios do Estado, do mercado e da comunidade) e o da “emancipação” (racionalidades “estético-expressiva
das artes e da literatura”, “cognitivo-instrumental da ciência e da técnica” e
“moral-prática da ética e do direito”). “Desde o
início que se previra a possibilidade de virem a surgir excessos e défices, mas
tanto uns como outros foram concebidos de forma reconstrutiva (...). Essa
gestão reconstrutiva dos excessos e dos défices foi progressivamente confiada à
ciência e, de forma subordinada, embora também determinante, ao direito.
Promovida pela rápida conversão da ciência em força produtiva, os critérios
científicos de eficiência e eficácia logo se tornaram hegemónicos, ao ponto de
colonizarem gradualmente os critérios racionais das outras lógicas
emancipatórias.” [mensagem «0057»]
O mundo que
nos rodeia proporciona pontos de partida e de chegada para as aprendizagens:
Exemplos de temas já abordados neste blogue:
Azulejos de padrão (ou não) (Arte; História; Matemática; Técnica): [mensagens «0011», «0024»,
«0029», «0031», «0035», «0053» e «0108»]; sobre o Azulejo
de Padrão escreveu Eduardo Néry: “No azulejo, o conceito de padrão encontra-se intimamente
ligado ao da repetição de um motivo gráfico ou pictórico, organizado segundo
eixos de simetria ou de outros esquemas estruturantes, quase sempre de raiz
geométrica, mesmo quando os motivos ornamentais se inspiram na natureza.”
[mensagem «0011»]
Cinema (Filosofia; História;
Matemática): [mensagens «0027»,
«0040» e «0058»]; …
Desporto (Corpo; Matemática):
[mensagens «0068» e «0102»]; …
Jogo de Reflexão (História; Matemática): [mensagens «0004»,
«0021», «0037», «0055», «0067», «0079» e «0081»]; …
Livro (Ciência; Corpo;
Filosofia; História): [mensagens «0017», «0036»,
«0076» e «0083»]; …
Magias com Matemática (Culturas; Matemática): [mensagens «0005»,
«0008», «0018», «0019»,
«0026», «0033», «0039», «0043», «0047», «0051», «0062», «0064», «0086», «0099»
e «0103»]; …
Museu (Cultura; História;
Matemática): [mensagens «0016», «0038», «0046»
e «0052»]; …
Natureza (Ciências da
Natureza; História; Filosofia): [mensagens «0025»,
«0028», «0041», «0069», «0088», «0089», «0106» e «0110»]; …
Padrões geométricos (Arte; Culturas; História; Matemática):
[mensagens «0061», «0070», «0072», «0073»,
«0075» e «0096»]; …
Quebra-cabeças (Culturas; Matemática): [mensagens «0013,
«0014», «0022», «0044», «0050», «0067» e «0082»]; …
Quando se
estabelecem pontes entre os «conhecimentos» geram-se «saberes»:
Exemplo: o Earth Science Curriculum Project, cujas primeiras
ideias foram testadas ao longo de dois anos lectivos (1964-66) por um vasto
grupo de professores norte-americanos nas suas escolas. Este projecto pretendia
que as aprendizagens no Ensino Básico se baseassem na história integrada do
planeta Terra, em vez de serem precocemente sujeitas às habituais subdivisões
em Astronomia, Biologia, Ecologia, Física, Geografia, Geologia, Meteorologia,
Paleontologia, Química – e em Matemática [mensagem «0001»]
Outros exemplos: [mensagem «0092»]
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