sexta-feira, 7 de abril de 2023

[0311] De quem nos fala a «ficção científica»?

A ficção científica também tem sido designada – e talvez mais adequadamente - como ficção social e científica.

Entre os escritos precursores deste género literário encontram-se obras como «Utopia» (1516), de Thomas More, «Somnium» (1611), de Johannes Kepler, «Histoire comique des Estats et empires de la Lune
» (1657), de Cyrano de Bergerac, «Nova Atlantis» (1626), de Francis Bacon, «The Balloon-Hoax» (1844), de Edgar Allan Poe, e «Strange Case of Dr Jekyll and Mr Hyde» (1886), de Robert Louis Stevenson.

Foi com o francês Jules Verne (1828-1905) e com o inglês H. G. Wells (1866-1946), portanto na transição para o século XX, que as características deste género literário se começaram a explicitar. Entre os seus autores mais interessantes, activos até perto do início deste século, figuram o checoslovaco Karel Čapek (1890 - 1938), os ingleses Aldous Huxley (1894 - 1963), George Orwell (1903 - 1950) e Arthur C. Clarke (1917 - 2008), os norte-americanos Robert A. Heinleine (1907 - 1988), Isaac Asimov (1920 - 1992), Ray Bradbury (1920 - 2012) e Kurt Vonnegut Jr. (1922 - 2007), o canadiano A. E. van Vogt (1912 - 2000) e o polaco Stanislaw Lem (1921 - 2006).

Para Isaac Asimov, um destes autores, o objectivo deste tipo de ficção não é imaginar o «futuro»: “O verdadeiro futuro será o que as circunstâncias, a vontade humana e a inteligência do homem quiserem fazer dele; e o que podemos desejar é que todas elas conspirem para que o resultado seja bom. O meu objectivo, como futurista, é reconhecer o terreno que temos pela frente, a fim de a humanidade, na sua viagem através do tempo, tenha uma noção mais exacta daquilo a que pode aspirar e daquilo que deve evitar.

Para Darko Suvin, um estudioso, o que é escrito por estes ficcionistas, são “parábolas”, tal como já estava bem explícito na «Guerra dos Mundos», que Wells publicou em 1898: logo no início, ao descrever a invasão da Terra pelos Marcianos, ele diz-nos que “os marcianos se comportaram em relação a nós, terrestres, como «nós», ingleses, nos comportámos relativamente aos povos coloniais”. Por isso, prossegue Suvin, os filmes como «A Guerra das Estrelas» são “nocivos”; são “uma mistura habilidosa” de filmes de guerra e de contos de fadas, são “sofrivelmente reaccionários, da nova direita americana, populista”, e o seu sucesso levou muitos romancistas americanos a “escrever com a esperança de ganhar dinheiro vendendo um das suas histórias a Hollywood, e isso implicou uma perda de qualidade média” do que eles escreveram.

Para Rod Serling, criador da série «Twilight Zone, existe uma diferença de grau entre a «fantasia» e a «ficção»: “Fantasia é o impossível tornado provável. Ficção científica é o improvável tornado possível.

O canal televisivo ARTE exibiu há tempos dois documentários particularmente interessantes relacionados com a ficção social e científica, que, infelizmente já não estão acessíveis (mas que os interessados podem procurar por outros meios).

Num deles comparam-se as obras 1984, de Georges Orwell, com The Brave New World, de Aldous Huxley, duas visões futuristas sobre o controlo social e que, hoje, talvez se possa dizer estarem a ser concretizadas complementarmente:


No outro faz-se uma análise do testamento literário daquele que talvez se possa considerar o mais prolífico escritor deste género literário: Isaac Asimov:


Fontes: livro de Asimov (1986; p. 10); prefácio de Lima da Costa a Antologia de Ficção Científica (de que não possuo o nome da editora nem a data de publicação); entrevista a Darko Suvin (1983); Wikipédia (em português), artigo «Ficção científica» (acedido em 21 de Outubro de 2022)

Documentários referidos: «George Orwell, Aldous Huxley: “1984” ou “Le Meilleur des Mondes”?»; «Isaac Asimov. L`étrange testament du père des robots»

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