Em finais do século XV diversos monarcas europeus iniciaram
esforços que visavam introduzir alguma uniformização na grande diversidade de
sistemas de pesos e medidas usados nos seus reinos.
Em Portugal, foi D. João II (1481 a 1495) quem lançou os
primeiros passos dessas reformas, tendo-os D. Manuel I (1495 a 1521) prosseguido, tendo
obtido especial sucesso no respeitante ao sistema de pesos. As regras deste sistema foram incluídas no Regimento dos
Ofiçiais das Çidades, Villas e Lugares destes Regnos, a primeira lei (tanto quanto se sabe) impressa em Portugal,
o qual foi enviado para muitos dos concelhos do país em 1504, acompanhado pelos novos padrões de pesos.
O essencial do «Regimento dos Ofiçiais das Çidades, Villas e
Lugares destes Regnos» foi mais tarde incluído nas chamadas Ordenações Manuelinas, a compilação de leis que D. Manuel
I mandou publicar em 1512-13 e que posteriormente teve duas outras versões.
Segundo a última versão, a de 1521, cada concelho deveria possuir uma
cópia do padrão de pesos em função do seu número de «vizinhos»: o padrão maior,
adequado para mais de 400 vizinhos, era de um Quintal, sendo composto por dezasseis
peças, sendo a maior peça a própria caixa onde as outras peças eram incluídas,
que pesava meio Quintal:Padrão manuelino composto por dezasseis peças |
A leitura dos «Ordenações Manuelinas» permite-nos entender a hierarquia dos pesos envolvidos nestes padrões, e que certamente reflectia as unidades de peso que tinham até então tinham estado em vigor:
Sob o ponto de vista actual, este sistema de unidades de peso estava estruturado segundo as potências de base 2. E quanto àquilo a que hoje chamaríamos design, as diferentes unidades foram concebidas de modo a poderem encaixar-se umas nas outras, como «bonecas russas»:
Padrão de duas arrobas (caixa aberta contendo treze pesos, faltando o mais pequeno) |
Certamente devido à experiência que os matemáticos da época
tinham, sabia-se que a soma das sucessivas potências com base 2 era igual à
potência seguinte menos uma unidade, o que, usando a simbologia actual, se
escreve assim:
20 + 21 + 22
+ 23 + … + 2n + 1 = 2n+1
Foi por esta razão que nas «Ordenações Manuelinas» se
escreveu que a caixa pesava um Quintal e que isso equivalia à adição sucessiva
de meio Quintal, com uma Arroba, etc., etc., com uma Oitava e, por fim, com «duas peças de meia oitava cada hũa»: estas duas peças
correspondem ao 20
e ao 1
na expressão que figura acima!
Se pegarmos numa calculadora vulgar podemos verificar este
conhecimento experimental dos matemáticas da época:
1 + 2 +
(o ecrã mostra 3,
inferior em uma unidade a 4)
4 +
(ecrã: 7)
8 +
(ecrã: 15)
16 +
(ecrã: 31)
32 +
etc.
As peças descritas acima podem
ser observadas no Museu de Metrologia, que faz parte do
Instituto Português da Qualidade.
Fonte: Neves, concepção e coordenação (2018)
Imagens dos padrões: sítio do Museu de Metrologia
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