Este objectivo é assim apresentado
em https://unric.org/pt/objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel:
Objetivo 12: Produção e Consumo Sustentáveis
Implementar o Plano Decenal de Programas sobre Produção e Consumo Sustentáveis,
com todos os países a tomar medidas, e os países desenvolvidos assumindo a
liderança, tendo em conta o desenvolvimento e as capacidades dos países em
desenvolvimento.
Até 2030, alcançar a gestão sustentável e o uso eficiente dos recursos naturais.
Até 2030, reduzir para metade o desperdício de alimentos per capita a nível mundial, de retalho e do consumidor, e reduzir
os desperdícios de alimentos ao longo das cadeias de produção e abastecimento,
incluindo os que ocorrem pós-colheita.
Até 2020, alcançar a gestão o ambientalmente saudável dos produtos químicos e
todos os resíduos, ao longo de todo o ciclo de vida destes, de acordo com os
marcos internacionais acordados, e reduzir significativamente a libertação
destes para o ar, água e solo, para minimizar seus impactos negativos sobre a
saúde humana e o meio ambiente.
Até 2030, reduzir substancialmente a geração de resíduos por meio da prevenção,
redução, reciclagem e reutilização.
Incentivar as empresas, especialmente as de grande dimensão e transnacionais, a
adotar práticas sustentáveis e a integrar informação sobre sustentabilidade nos
relatórios de atividade.
Promover práticas de compras públicas sustentáveis, de acordo com as políticas
e prioridades nacionais.
Até 2030, garantir que as pessoas, em todos os lugares, tenham informação
relevante e consciencialização para o desenvolvimento sustentável e estilos de
vida em harmonia com a natureza.
Apoiar países em desenvolvimento a fortalecer as suas capacidades científicas e
tecnológicas para mudarem para padrões mais sustentáveis de produção e consumo.
Desenvolver e implementar ferramentas para monitorizar os impactos do
desenvolvimento sustentável para o turismo sustentável, que gera empregos,
promove a cultura e os produtos locais.
Racionalizar subsídios ineficientes nos combustíveis fósseis, que encorajam o
consumo exagerado, eliminando as distorções de mercado, de acordo com as
circunstâncias nacionais, inclusive através da reestruturação fiscal e da
eliminação gradual desses subsídios prejudiciais, caso existam, para refletir
os seus impactos ambientais, tendo plenamente em conta as necessidades
específicas e condições dos países em desenvolvimento e minimizando os
possíveis impactos adversos sobre o seu desenvolvimento de uma forma que
proteja os pobres e as comunidades afetadas.
O seguinte
texto de opinião, de Vítor Belanciano, O mundo da obsolescência programada, ajuda-nos a perceber um dos obstáculos que o cumprimento
deste objectivo enfrenta:
“Quando
a qualidade e durabilidade são inimigas da produção de grande escala, da
economia e do lucro.
Está ligada num quartel de bombeiros de uma pequena cidade
californiana, Livermore, desde 1901. É uma lâmpada. Pode ser vista a qualquer
hora no sítio da Internet BulbCam. Trata-se de
um pequeno e vulgar exemplar, com cerca de 120 anos, criado por um dos pioneiros
da electricidade, Adolphe Chaillet, o que no mundo actual onde as lâmpadas se
fundem com assiduidade, se tornou numa curiosidade exótica. Naquela época toda
a gente queria o durável. Agora valoriza-se o novo.
Há dias, quando tentei pôr a arranjar um electrodoméstico não muito usado, e do
outro lado do balcão ouvi duas frases recorrentes em situações análogas,
lembrei-me disso: “Sabe, há muitos fabricantes que fazem isto assim para
resistir apenas um certo tempo”. E, logo de seguida: «Olhe, sai-lhe mais barato
agora comprar um novo do que pôr isso a arranjar». Bem-vindos ao fenómeno da obsolescência
que é projectada.
Nunca ouviremos um fabricante assumir que o objecto por si executado foi
estrategicamente delineado para ter um ciclo de vida menor do que poderia ter,
mas a verdade é que esses períodos parecem cada vez mais reduzidos, forçando os
consumidores a adquirirem assiduamente novos produtos. Longe vão os tempos em
que havia objectos, como a lâmpada de Livermore, que duravam uma vida. Hoje
quando ouvimos os gurus das diversas indústrias — com destaque para a
tecnologia — em nenhum momento escutamos que aspiram a aumentar a qualidade dos
produtos através da duração ou até da perenidade. Essa hipotética conquista
resultaria em excedente de produção e diminuição de vendas e ganhos.
A obsolescência técnica planificada é a confirmação de que a estrutura
produtiva, na maioria dos casos, não satisfaz as necessidades humanas, criando
uma gigante indústria que se esforça por estimular necessidades artificiais,
para satisfazer esse mesmo sistema produtivo e a finança. Para além da técnica,
existe a obsolescência cognitiva ou simbólica, que consiste em considerar
determinado utensílio — os telemóveis são um bom exemplo — como desactualizado,
apesar de funcionar na perfeição. Não é o objecto que é inútil, é o sujeito que
se sente invalidado se não tiver um novo modelo, mais de acordo com os seus
padrões sociais.
A estratégia não é, evidentemente, nova. A ideia de criar produtos que precisem
de ser eternamente substituídos tem barbas — por falar nelas, as máquinas de
barbear têm muito que se lhe diga — com inúmeras perversões à mistura, como
aquelas grandes empresas que limitam o direito de reparação ao consumidor, com
sistemas operacionais que impedem interferências ou acesso a componentes. Para
já não falar dos sistemas operacionais actualizados que não comportam aparelhos
sem a mesma actualização. Essas multinacionais acabam por deter o monopólio das
receitas com a assistência técnica de aparelhos que ajudaram a tornar
ultrapassados, alterando o princípio de propriedade. Resultado? Já não se tenta
reparar, na época em que todos falam em reciclar. Ao menor incidente com um
aparelho o que se tenta de imediato é a sua troca.
Vivemos numa era de fé cega na tecnologia. Olhamos para ela como forma de
salvar o futuro de problemas que a nossa relação com a mesma tecnologia acaba
por criar. Como o exemplo da lâmpada demonstra, há mais de 100 anos os produtos
fabricados tinham maior longevidade, apesar de a tecnologia ser menos avançada.
Eis, então, o paradoxo. No mundo actual, a qualidade e durabilidade são
inimigas da produção de grande escala, da economia e do lucro, com todas as
questões de ordem social, ambiental e comportamental, com relações
interpessoais cada vez mais descartáveis, que tais assuntos também transportam.
Faça-se luz.”
Neste blogue, os dezassete
Objectivos do Desenvolvimento Sustentável foram genericamente apresentados na
mensagem «0080».
Depois foi feita uma apresentação específica, com um comentário, aos seguintes
objectivos: erradicar a pobreza (mensagens
«0154», «0196» e «0206»), erradicar a fome
(«0157»), saúde de qualidade («0169»), educação de qualidade
(«0176»), igualdade de género («0178»), água potável e saneamento («0239»), energias
renováveis e acessíveis («0244»), trabalho
digno e crescimento económico («0267»), indústria,
inovação e infraestruturas («0275»), reduzir
as desigualdades («0294») e cidades e
comunidades sustentáveis («0314»)
Fontes: opinião publicada em jornal por Belanciano (2020 [?])