sábado, 7 de janeiro de 2023

[0302] Reflexões sobre a «memória» (a propósito do blogue «Aprendizagens»)

Contrariamente ao Cosmovivências, que se baseia nas preocupações do «presente», o blogue Aprendizagens, seu irmão mais novo, foca o «passado», não como reverência em relação ao que «aconteceu», mas como forma de entender o terreno em que hoje estamos, que também é aquele sobre o qual, inevitavelmente, se está a construir o «futuro».

O endereço deste novo blogue é o seguinte: https://aprendizagens2023.blogspot.com/.



As ligações entre os diferentes tempos das nossas vidas, e os das vidas das sociedades que construímos, têm sido motivo para diversas reflexões.
Eis algumas delas (por ordem alfabética do nome próprio do autor):

Alberto Manguel:
As histórias são a nossa memória, as bibliotecas são como que armazéns dessa memória, e a leitura é o labor através do qual podemos recriar essa mesma memória, recitando-a e dando-lhe brilho, traduzindo-a para a nossa própria experiência, o que permite que nos ergamos sobre aquilo que as gerações anteriores consideraram digno de preservação.” (2011)

José Saramago (entrevistado por Clara Ferreira Alves):
Agrada-me pensar que o tempo não é essa diacronia, essa sucessão de momentos, agrada-me pensar no tempo como uma espécie de imensa tela onde se projetam e se fixam os acontecimentos. É como se eu visse os acontecimentos projetados numa superfície única, onde tudo estivesse ao lado de tudo, onde tinhas a batalha de Maratona e a chegada do homem à Lua, ou a Clara Ferreira Alves e a Lucrécia Bórgia [risos].” (1991)

Peter Bogdanovich:
O passado não é o passado porque está sempre connosco.” (citado por Nuno Pacheco, 2023)

Pierre Nora
:
A memória é vida. É sempre transportada por um grupo de pessoas vivas e, por isso mesmo, está em permanente evolução. Encontra-se submetida às dialécticas da recordação e do esquecimento, sem se aperceber das suas sucessivas deformações, aberta a usos e manipulações de todas as espécies. Por vezes permanece latente durante longos períodos, após os quais subitamente revive. A história é sempre a reconstrução incompleta e problemática daquilo que já não existe. A memória pertence sempre ao nosso tempo e forma como que um limite vivo do presente eterno; a história é a representação do passado.” (citado por Hobsbawm, 1990)

Rui Bebiano, referindo-se a Pierre Nora:
A memória histórica tanto pode legitimar as narrativas dominantes como contribuir para desenvolver interpretações alternativas.” (2019)

Rui Bebiano, referindo-se a Marc Augé:
Para lembrar é preciso esquecer, ou silenciar.” (2019)

Stephen W. Hawking:
É o passado que nos diz quem somos; sem ele, perdemos a nossa identidade.” (2020)

Yuval N. Harari:
Os historiadores estudam o passado não para o repetir, mas para se libertarem dele.” (2018)



Nota: voltando à decisão que ficou em suspenso na mensagem «0300», decidi não recomeçar o blogue «Pontes na Nossa Banda».


Fontes: Bebiano (2019); Harari (2018; p. 73); Hawking (2020; p. 82); Hobsbawm (1990; p. 11); Manguel (2011; p. 19); Pacheco (2023); Saramago (1991)

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