quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

[0207] O Império Mogol e os azulejos mogol


Imaginemos uma parede forrada de azulejos, todos com o mesmo padrão geométrico. E imaginemos que a impressão visual que ela nos dá é a que os seguintes 9 azulejos nos dão:


Que há de invulgar neste padrão de azulejos?!

Sim, é isso: o que há de invulgar é a forma do próprio azulejo, um hexágono regular – não é uma forma usual no mundo ocidental!

De onde veio então a ideia de sugerir que imaginemos uma tal parede?
Compreensivelmente, surgiu do Museu Nacional do Azulejo (MNA), em Lisboa, onde estão visíveis para os visitantes alguns azulejos chamados «mogol», como este:


Trata-se de um azulejo proveniente do Mosteiro de Santa Mónica, em Goa, datado do século XVII, e que tem a particularidade de não ter a forma de um quadrado, mas sim de um hexágono, tal como os outros azulejos mogóis que o MNA nos mostra.

Enquanto no mundo ocidental os azulejos foram rapidamente reduzidos ao suporte quadrado, noutras paragens deste mundo em que vivemos a arte continuou a recorrer a uma maior variedade de formas. No caso deste azulejo tratou-se da chamada arte mogol.

A arte mogol é a arte que o Império Mogol (ou Mugal, ou Mogul) nos proporcionou.
Este Império durou de 1526 a 1857 (teve um interregno entre 1540 e 1555), correspondendo a máxima dimensão do seu território (atingida por volta de 1700) à quase totalidade do sub-continente indiano, ou, em termos actuais, à maior parte da Índia, do Paquistão, do Afeganistão e do Bangladesh:


O fundador do Império Mogol, Babur, era descendente de Gengis Khan (um mongol), sendo possível que tenha sido por esta razão que os portugueses designaram por Grão-Mogol cada um dos imperadores com que contactaram neste Império.
No seu auge, com uma população superior a 100 milhões de habitantes, o Império Mogol poderá ter sido o mais rico, o mais sofisticado e o mais poderoso do planeta. No entanto, entrou em rápido declínio a partir de 1725, por razões internas, não tendo sido por isso capaz de resistir à pressão do colonialismo britânico.

O padrão geométrico que imaginámos inicialmente tem uma consequência muito interessante para quem o queira analisar sob o ponto de vista matemático: pelo facto de a forma destes azulejos ser hexagonal, é possível formar nas paredes por eles cobertas alguns dos padrões que os azulejos cuja forma é quadrada não podem formar.
Recorrendo ao fluxograma da mensagem «0123», a classificação deste padrão como papel de parede precisa de responder às seguintes questões:

Pergunta: tem pelo menos uma família de centros de rotação?
Resposta: sim.
Comentário: de facto, tem várias famílias de centros de rotação.
Pergunta seguinte: a amplitude mínima dessa rotação é de 180º, ou inferior?
Resposta: sim.
Comentário: a amplitude mínima é de 60º.
Terceira pergunta: a amplitude mínima dessa rotação é de 90º, ou diferente?
Resposta: é diferente.
Quarta pergunta: a amplitude mínima dessa rotação é de 120º ou de 60º?
Resposta: 60º.
Quinta pergunta: tem pelo menos uma família de simetrias axiais?
Resposta: tem
Comentário: tem muitas famílias de simetrias axiais!
Conclusão: este padrão é do tipo p6m.

Com apenas um exemplo de centro de rotação e de eixo de simetria, eis então o painel de azulejos que imaginámos:


Fonte: sobre o Império Mogol (texto e mapa), Wikipédia

Fotografia: Eva Maria Blum

Desenhos: Pedro Esteves

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