Eis as colunas a que me refiro, num desenho delas feito por João Vaz (1859 - 1931):
À distância, cada uma destas colunas parece ser formada por um
enrolamento de colunas mais pequenas. Como se cada coluna fosse uma «trança»,
ou uma «corda», ou um grupo de «gavinhas» determinadas a unir a terra e o cèu.
Trata-se de uma ilusão. De facto, ao nos aproximarmos, é possível verificar que
estas colunas são constituídas pela sobreposição vertical de «tambores», sendo cada
«tambor» uma peça única.
Na fotografia seguinte vê-se um desses «tambores», situado perto da base de uma
das colunas. Como a pedra usada (nas colunas e noutros elementos decorativos desta
igreja) é um conglomerado (chamado «brecha da Arrábida»), observam-se nela alguns
dos calhaus rolados que a formaram; e constata-se que na fronteira entre as
duas «gavinhas» visíveis nesta imagem algumas das pedras fazem parte de ambas (há
uma terceira «gavinha», por detrás destas duas, pois cada coluna é constituída
por três):
Podemos portanto imaginar que os blocos de conglomerado cortados numa
pedreira da Serra da Arrábida para com eles esculpir cada um dos «tambores»
terão sido inicialmente talhados como cilindros, todos com a mesma altura e com
o mesmo diâmetro.
E, baseados no que se constata no «tambor» de uma coluna mais pequena (em
exibição no museu associado a esta igreja), podemos ainda admitir que
estabilização entre dois «tambores» consecutivos foi conseguida por um duplo
encaixe no centro das suas faces em contacto, um em forma de prato e outro,
mais pequeno e mais fundo, onde era colocado um objecto de metal, ambos
destinados a impedir os deslocamentos horizontais:
Esta igreja foi contruída nos
finais do século XV e resistiu a sismos importantes, nomeadamente ao de 1755 |
Mas, como seria concretizada a última fase escultórica dos
«tambores», ou seja, como seriam esculpidas as «gavinhas» que parecem
constituir estas colunas?
Não sei. Mas posso conjecturar que o processo terá começado pelo desenho, na
base inferior do primeiro cilindro de pedra, de três circunferências, iguais e
tangentes entre si, seguindo-se o desenho das mesmas três circunferências, mas
rodadas de 90º (por exemplo) no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio (ainda
por exemplo) na sua base superior.
Depois (e esta á a parte que eu não arrisco conjecturar) era necessário
esculpir este bloco, de modo que de cilíndrico passasse a ser um tronco de «corda»
(será que os escultores terão usado grossas cordas como modelos?).
Com todos os outros cilindros terá seguido exactamente o mesmo
processo, havendo apenas o cuidado de, no momento de formar a coluna, sobrepor adequadamente
a base inferior de um cilindro sobre a base superior do anterior!
Considera-se que esta Igreja, construída na década de 1490, foi o
primeiro ensaio do estilo manuelino.
Fotografias (recortadas): Eva
Maria Blum
Desenho: Pedro Esteves