domingo, 24 de janeiro de 2021

[0256] Os azulejos didácticos dos jesuítas em Évora

Lembrou o investigador Francisco António Lourenço Vaz:

Poucos anos antes da extinção da Universidade de Évora, determinado pelo Marquês de Pombal em 1759, as aulas do Colégio Espírito Santo foram revestidas com azulejos [didácticos], obra concluída em 1749, ou seja, 10 anos antes da extinção. Esta pode ter sido a última reforma pedagógica dos jesuítas na Universidade de Évora.

 

O uso de azulejos, como forma de reforçar ou ilustrar os ensinos ministrados com o apoio de manuais (possuidores de poucas imagens), fora determinado mais de uma década antes, tendo já sido concretizado no Colégio de Santo Antão em Lisboa e no Colégio das Artes em Coimbra.
Em Évora, os painéis de azulejos destinados a apoiar o ensino do Latim, das Humanidades e da Retórica foram colocados em oito salas; e os destinados ao apoio ao ensino das Artes em cinco: a aula de Geometria (sala 114), cujo ensino era propedêutico para a Física, a de Filosofia (sala 119), a de Física (sala 120) e a de Metafisica (sala 121).

 

Nos dois seguintes painéis, instalados na sala 114, estão tratados temas relacionados com a Geometria, a Astronomia e a Balística:



E neste outro painel, um dos instalados na sala 120, está ilustrada a célebre experiência de Magdeburgo, que demonstrou a existência de pressões próximas do vácuo, um tema da Física:



Fonte: PDF de Vaz (2020)

Fotografias (um pouco recortadas): Eva Maria Blum (2015)

domingo, 17 de janeiro de 2021

[0255] O tempo de Vida da Terra reduzido a «dois metros»

Há pelo menos dois tipos de modelos que procuram transmitir-nos uma noção do que são as durações muito grandes, como o tempo de Vida da Terra (cerca de 4 600 milhões de anos) ou o tempo de Vida do Universo (entre 13 000 e 15 000 milhões de anos).Um desses modelos aposta na sensibilidade que desenvolvemos à duração do dia e do ano, dado estarmos permanentemente expostos a um e a outro. E o outro modelo também aposta na nossa sensibilidade, mas a outra medida: a dos comprimentos. Na mensagem «0181», que prolongava a «0128», referi um exemplo deste segundo modelo, o de fazer com que um passo nosso equivalesse à passagem de um século (mostrando de quantos passos precisaríamos para regressar a diversos momentos do passado).
Volto desta vez ao modelo dos «comprimentos», inspirado numa ideia de John McPhee: reduzir o tempo de vida da Terra à distância entre as pontas dos dedos dos braços estendidos.

Recorrendo-me da parte superior do célebre desenho de Leonardo da Vinci, e regressando ao tema da Vida da Terra («Ma» quer dizer «Milhões de anos»):


De acordo com esta representação,

a primeira mão, o primeiro braço, o tronco e o segundo braço correspondem ao tempo em que a vida surgiu, ao desenvolvimento das células até formar agregados de células e, depois, as primeiras formas complexas de vida, embora suficientemente toscas para quase não deixarem registo fóssil;

o Câmbrico (há cerca de 540 Ma atrás), altura em que surgiram as grandes linhagens da vida actual, só se inicia ao chegar ao pulso da segunda mão;

e a história humana está reduzida a um espaço tão pequeno, na extremidade da segundo mão, que uma só passagem com uma lima de unhas a erradicaria.

 

Fonte: Bryson (2004; p. 336)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

[0254] Uma magia algébrica

A magia:

O mágico anuncia aos espectadores que quiserem participar nesta magia: qualquer que seja o número secreto que cada um escolher, todos irão convergir para o mesmo número; como mágico, irei adivinhar, antes de todos começarem a trabalhar, qual é esse número; e não farei perguntas.

Um exemplo:

A justificação:

Para demonstrar que este «truque» funciona é necessário recorrer à Álgebra. E verificar, entre outras coisas, se é adequado o universo dos números proposto aos espectadores (maior ou igual a 51 e menor ou igual a 100).

O mágico não revelou que o número dado aos espectadores (neste exemplo foi o 68), adicionado ao número final (desta vez o 31) é igual a 99! E também não revelou que esse número está sujeito à mesma regra dos números que cada espectador deve escolher (maior ou igual a 51 e menor ou igual a 100).
Então, algebricamente, cada espectador escolhe um número inteiro, N, e o mágico dá-lhe outro número que é igual a 99 – S, sendo S o número que está dentro do envelope (a «solução»). Seguem-se os seguintes passos:

N + 99 – S

N + 99 – S – 100

N + 99 – S – 100 + 1

N – N + 99 – S – 100 + 1

Reparem, portanto: N anula N; 99 – 100 + 1 também se anulam; apenas sobra o S …´


Difícil?

 

Fonte: livro de Kordemsky (1978; pp. 131-132)


domingo, 3 de janeiro de 2021

[0253] As «diferenças entre alunos» ou as «diferenças entre países»?

A última edição do TIMSS (Trends in International Mathematics and Science Study, o estudo internacional que visa conhecer, de 4 em 4 anos, os desempenhos dos alunos do 4º e do 8º anos em Matemática e Ciências), foi realizada em 2019 e os seus resultados divulgados no final de 2010.

Num dos nossos jornais os resultados obtidos por alunos portugueses foram resumidos através dos seguintes quadros:




Os comentários públicos que foram sendo conhecidos através de vários meios de informação centraram-se na descida das médias dos nossos do 4º ano e na correspondente descida da classificação. Pouca atenção foi dada às diferenças de género e entre escolas públicas e privadas. E nenhuma atenção foi dada à diferença entre os diversos desempenhos dos nossos alunos, que o olhar apenas focado nas médias não captura.
Em vez de nos compararmos obsessivamente com outros países, não será principalmente sobre as nossas diferenças internas que devemos conversar?

 

Fonte das imagens: Jornal de Notícias de 9 de Dezembro de 2020

 Para quem quiser informações vindas directamente dos organizadores deste estudo, ver: www.timss.org