segunda-feira, 22 de agosto de 2016

[0002] O filme «The Man Who Knew Infinity» (O Homem que Viu o Infinito)

Realizador e argumentista: Matt Brown.
Actores: Dev Patel (Srinivasa Ramanujan) e Jeremy Irons (G. H. Hardy).
Ano: 2016.



Srinivasa Aiyangar Ramanujan nasceu na Índia (então uma colónia inglesa) em 1887. Já na infância, a sua inteligência excepcional deixa todos à sua volta impressionados. Por causa disso, ganha uma bolsa para o Liceu de Kumbakonam, onde desperta a admiração dos professores. Na adolescência começou, por auto-recriação, a estudar séries aritméticas e séries geométricas e com apenas 15 anos conseguiu encontrar soluções de polinómios de terceiro e quarto grau. Com essa idade teve acesso a um livro que marcou a sua vida: «Synopsis of Elementary Results on Pure Mathematics», a obra de George Shoobridge Carr, um professor da Universidade de Cambridge (Inglaterra). O livro apresenta cerca de seis mil teoremas e fórmulas com poucas demonstrações, o que influenciou a maneira de Ramanujan interpretar a Matemática. Aos 16 anos fracassou nos exames de inglês e perdeu a bolsa de estudos. Sem desistir, continuou as suas pesquisas de forma autodidacta. Estudando e trabalhando sozinho, recria tudo o que já fora feito em Matemática. Mais tarde, decidiu frequentar uma universidade local como ouvinte. Os professores, percebendo as suas qualidades, aconselharam-no a enviar os resultados dos seus trabalhos para o grande matemático inglês G. H. Hardy. Em 1913, impressionado com o seu intelecto, Hardy convida-o para ir para Cambridge onde, apesar de todas as dificuldades de adaptação e de algum cepticismo do corpo docente, se tornou professor no Trinity College, sendo agraciado com o ingresso na Royal Society de Ciências. Em 1919, adoeceu com tuberculose e regressou para a Índia, onde morre, em 1920.

(texto muito ligeiramente adaptado do Cine Cartaz do jornal «Público»)

Uma das contribuições de Ramanujan para a Matemática, em colaboração com Hardy (no ano de 1918), visou a partição de um número natural.
Exemplificando, o número 5 pode ser partido de sete modos diferentes:

5
4 + 1
3 + 2
3 + 1 + 1
2 + 2 + 1
2 + 1 + 1 + 1
1 + 1 + 1 + 1 + 1

Generalizando este procedimento para N (isto é, para qualquer número natural), Ramanujan e Hardy construíram uma função recursiva assimptótica que expressava o número de partições de N (em 1937, Hans Rademacher obteve uma fórmula exacta para essa função).

O percurso matemático de Ramanujan, baseado primeiro numa intuição brilhante, depois confrontado com o desafio colocado em Cambridge) da validação dos resultados (pela demonstração) é, afinal, o percurso, a uma escala mais pequena, de muitos jovens e adultos que têm de lidar, hoje, com a Matemática. Alertando para isto, escreveu o professor António Fernandes (2016; p. 43):
O facto é que absoluto rigor e criatividade nem sempre caminham lado a lado, nem mesmo em Matemática. E num processo que conduz à demonstração de um resultado matemático, existem períodos criativos, imaginativos, e especulativos, eventualmente menos rigorosos, como é típico das actividades exploratórias em território desconhecido.

domingo, 21 de agosto de 2016

[0001] O Earth Science Curriculum Project

Em 1981 deparei-me numa livraria com a versão brasileira de «Investigando a Terra», uma tradução (e nalgumas partes uma adaptação) do original norte-americano, preparado durante mais de três anos pela equipa do Earth Science Curriculum Project.


O que mais me impressionou neste projecto não foi ele ter-se apoiado nos comentários de um vasto grupo de professores, que usaram as primeiras ideias nas suas escolas, ao longo de dois anos lectivos (1964-66). Foi ter pretendido que a aprendizagem no Ensino Básico se baseasse numa “história real integrada do planeta Terra.” Ou seja, que essa aprendizagem não fosse precocemente sujeita às habituais subdivisões em Astronomia, Biologia, Ecologia, Física, Geografia, Geologia, Meteorologia, Paleontologia, Química – e até, nalguns aspectos, em Matemática.

(Fonte: Earth Science Curriculum Project & Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências: 1973, 1º volume; 1976, 2º volume)